sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Tom Sawyer de parede



A maioria das pessoas conhece o Tom Sawyer da televisão. Cinema ou animação, longa metragem ou série, entendem ser algo para crianças.
Pese embora ser uma obra de aventura, a escrita por Mark Twain, na verdade tem tantas leituras possíveis quantas as idades possíveis de ser lida. E são todas, as idades.
Porque há um montão de pequenos detalhes que escapam aos mais novos (e a muitos dos mais velhos) que transformam este livro em algo mais que apenas aventuras de um rapaz e seus amigos num distante lugar e tempo. E que, pensando num só tipo de público, tem escapado às versões cinematográficas ou televisivas.
Um desses aspectos faz-me identificar com a personagem principal. Não o costumo contar, que a maioria não conhece ou relembra o livro.
É que aquele garoto indomável tem sempre os bolsos cheios das coisas mais estranhas, pequenos tesoiros para ele, inutilidades e lixo para os demais, incluindo a Becky, sua amiga ou namorada, e a sua tia Polly, muito mais terna que os seus gritos e ameaças sugerem.
Que também eu guardo um montão de coisas, inúteis para os demais. Esse é, entre outros, o motivo de andar sempre de colete: muitos bolsos para guardar muitas coisas. E quando acontece numa situação qualquer, eu retirar de um deles aquela peça ou objecto que acaba por “salvar” a situação no momento, ficam a olhar para mim, sem percebem muito bem como me classificar que não como meio louco, mas com algo a cucutar-lhes a memória sem que saibam muito bem o quê. Talvez Tom Sawyer. Ou eles próprios.
Mas não é apenas nos bolsos que guardo essa enormidade de “inutilidades”. Qualquer vistoria aos meus sacos, tanto os de fotografia como as mochilas do quotidiano, deixa os mais avisados de olhar estranho. E já o tenho constatado, sorrindo eu francamente, em locais onde me obrigam a mostrar o seu conteúdo.
Mas se isso acontece no que transporto comigo, imagine-se portas adentro, naquilo a que se costuma chamar de “lar-doce-lar”.

Este é uma dessas vertentes:
Um painel onde vou guardando papeis, desenhos, esboços para fotografias, frases feitas ou criadas no momento, notificações policiais, facturas, convocatórias para consultas a que não fui, poemas, registos de correio, bilhetes de cinema, caricaturas, textos dedicados… todo um conjunto de coisas que foram importantes num dado momento e lugar e que hoje talvez, mas só talvez, não guardaria.
Mas nada disto terá como destino o lixo.
Da mesma forma que não deito para o lixo nenhuma memória que exista no meu cérebro. De modo algum!
Pode apanhar pó, pode ficar mais que desactualizada, pode parecer descontextualizada, pode estar escondida sob outros, mais recentes ou mais recentemente acedidos… mas certo é que, cedo ou tarde, cada um dos neurónios com a sua carga ou cada um destes papeis com os seus conteúdos, serão úteis. Não sei como nem quando, mas serão. Uns e outros.
Desarrumada, esta parede? Não creio!

Pelo menos não mais que eu próprio.

By me 

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