Hoje é dia de
reflexão.
Em querendo fazer
umas brincadeiras escritas em torno do termo “reflexão”, mas não me apetecendo
ir fazer uma fotografia, fui fazer uma pesquisa no meu arquivo, tendo uns três
ou quatro temas em mente. Vidros, espelhos, charcos, alguma coisa haveria de
servir para o mote.
E dou com esta
imagem, já velhota, de um vidro quebrado. Nele procurei a reflexão e a refracção.
E foram ambas as que usei.
Mas o que foi
importante nesta busca nem foi esta imagem que agora uso. Foi a que estava logo
ao lado, duplicada que é de uma outra muito mais antiga.
Pese embora ter
bem mais de um quarto de século, lembro bem onde foi feita, com que câmara, que
objectiva, que película em preto e branco, que revelador usado, em que papel
foi impressa… A impressão original está aqui, quase que ao alcance da mão,
protegida da luz para que se não estrague.
Mas o que será
importante nessa fotografia – um retrato – nem será nada disso mas antes o ter
sido – e ainda ser – uma das mais polémicas fotografias que fiz.
Que ainda hoje (ou
pelo menos da última vez que falei com a pessoa retratada) discutimos sobre se
será um retrato ou uma fotografia.
Para mim era e é
um retrato, a minha interpretação da pessoa que nela é visível, com toda a
objectividade e subjectividade que a fotografia permite e implica.
Para a pessoa
retratada mais não é que uma fotografia, não reflectindo a sua personalidade ou
forma de estar no mundo.
Não creio que a
distância – no espaço e no tempo – alguma vez venham a diminuir esta nossa
divergência de opiniões. Até porque, passados que são mais de trinta e tal
anos, do que fomos restam as imagens subjectivas das nossas mentes e memórias.
Mas ficará para
sempre esse elo inquebrável entre fotógrafo e fotografado, feito de reflexões e
refracções, sempre um pouco para além daquilo que a escrita da luz permite ver
e saber.
Postas estas
considerações mal-amanhadas sobre um tema complicado e que daria para muitos
tomos se eu tivesse jeito para tal, tratemos de reflectir seriamente. Não sobre
fotografia, significados, significantes ou interpretações, mas sobre o acto de
amanhã.
E no que ele
significa, mais do que sobre o passado, para o futuro.
By me
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