segunda-feira, 16 de novembro de 2015

O lado obscuro



Aconteceu há uns anos valentes.
Aquando da segunda guerra do Iraque, fiquei mais uma vez incomodado com a extrema parcialidade dos meios de comunicação social portugueses.
Fazendo uma comparação por alto, quase que só faltava terem os jornalistas na lapela uma bandeirinha dos eua.
Eram as reportagens, a selecção de notícias, a forma como eram tratadas, os comentadores e especialistas… tudo e todos demonstravam um tal apoio à coligação que atacava o Iraque que até enojava.
Não se via, ouvia ou lia nada sobre o outro lado da frente. Nem as consequências civis dos ataques, nem as consequências militares dos ataques.
Nem as opiniões, mesmo que não da frente de combate, de gente ou países que discordassem da intervenção.
Nada que não fosse a favor dos atacantes e das sérias razões que possuíam: as tais armas de destruição em massa que o inimigo teria. Não tinha!

Incomodado com isto, procurei fontes de informação alternativas via net. Não no sub-mundo virtual, que a ele não tenho acesso, mas apenas navegando por jornais e agencias noticiosas de outros países, comparando opiniões e relatos.
Não era tarefa fácil, já que havia que os procurar, identificar, filtrar, perceber a língua… mas lá o fui fazendo.
E é surpreendente aquilo que encontramos e aprendemos quando conhecemos o que pensa o outro lado. Ou mesmo lados que nem sabemos que existem.

Entusiasmado com o que ia aprendendo e descobrindo, e achando que o meu trabalho de pesquisa e aprendizagem poderia ser útil a outros, decidi empreender um trabalho que se demonstrou ser gigantesco: um site que servisse de guia a essas outras fontes de informação, listando todos esses jornais, rádios, televisões e agências noticiosas. O objectivo era o cobrir todos os países do mundo.
Foi um ano e meio de trabalho insano, com muitas horas por dia de pesquisa e interpretação do que encontrava, correndo um mundo de links e tentando ultrapassar as barreiras linguísticas.

Infelizmente, uma avaria grave no computador onde todo esse trabalho (ainda por metade) estava arquivado apagou-o. Irremediavelmente. Chorei, na verdadeira acepção da palavra, quando me apercebi disso. Milhares de horas deitadas fora por causa de uma avaria! Ano e meio de olhos postos em ecrãs!
A culpa fora parcialmente minha, já que, e ao contrário do que já então fazia com fotografias e textos, não tinha esse trabalho em curso guardado em redundância, com mais que uma cópia em suportes diferentes.

Hoje não me daria a esse trabalho.
Não sou arauto do esclarecimento dos demais e vou intervindo se e como posso e ao nível do equilíbrio entre o que penso e o que quero viver.
Mas tenho três certezas inabaláveis:
A -Se o fizesse, teria vários back-ups informáticos autónomos.
B – Continua a ser necessário, e cada vez mais, que cada um aborde as questões importantes sob vários pontos de vista, tentando não se deixar levar pela manipulação dos media e a histeria colectiva.

C - O lado obscuro da comunicação social é tenebroso!

By me

1 comentário:

joaquim bispo disse...

«a extrema parcialidade dos meios de comunicação social portugueses» - Temos de fazer justiça ao nosso Carlos Fino que foi a voz solitária mas esclarecedora da denúncia da iníqua guerra conduzida por um país que devia ser um exemplo de correção.