Um dos problemas
da actual sociedade de informação é ela mesma: a informação!
Quer seja através
dos meios convencionais quer seja através das novas tecnologias, temos todos os
dias mais informação, acesso a mais conhecimento. Em variedade e profundidade.
Mas esta é também
a sociedade de consumo. Há que consumir mais e mais, que assim somos levados
pelas campanhas de marketing e pela definição de status social.
E quando
misturamos conhecimento com consumo o resultado da fórmula redunda em
superficialidade. Não há tempo para aprofundar o conhecimento em tantas e tão
várias áreas. E fica-se pela superfície.
Exemplificando, e
forçando um pouco a nota:
Depois de se ler
um artigo de 300 palavras sobre física nuclear, passa-se a outro sobre
botânica, seguindo-se direito internacional, motores de combustão interna,
culinária e termina-se a manhã com economia.
E, depois de os
ler, fica-se com a sensação de “saber” sobre a matéria. Não nos damos ao
trabalho de questionar as ideias lidas, que isso levaria a procurar outras
leituras e autores, a aprofundar o sentido de cada palavra, frase ou conceito.
E, em chegando ao fim da manhã, não teríamos passado, talvez, de meio do
primeiro artigo. Com sorte!
E, quando mais
tarde, em torno de uma imperial vespertina no café ou de uma bica na cantina,
passaríamos por ignorantes. Saberíamos alguma coisa de um tema, mas os outros
passar-nos-iam ao lado. Que vergonha social, não se saber nada de tantos
assuntos!
Mas, tão ou mais
grave que este consumismo de conhecimento, com fórmulas instantâneas de saber,
é não só a falta de curiosidade de quem consome como a superficialidade dos
meios onde se consome. São os artigos breves, os guias práticos, o saber para
totós. Que entopem quiosques, livrarias, grandes superfícies e páginas web.
E esta
super-abundância de conhecimento por atacado, de incentivo à superficialidade
do saber, transforma-nos em idiotas doutores, que tudo sabemos sobre coisa
nenhuma e que nada sabemos sobre tudo.
E como as fontes
são semelhantes, tipificadas, minimalistas, quando se ventilam ideias, se
trocam opiniões, os pressupostos são os mesmos: as mesmas origens, as mesmas
superficialidades. E o resultado é nulo!
Os argumentos
apresentados nas conversas são os mesmos, baseados nas opiniões de outrem, sem
que os próprios tenham tido perguntas para as quais tenham procurado respostas.
Em existindo discordâncias de opiniões, a profundidade com que os assuntos são
sabidos é tão pequena, que pouco mais podem fazer os oponentes que recorrer a
chavões e frases feitas, porque lidas no guia prático ou no suplemento
dominical.
E, ao sair-se do
café ou ao fechar-se o chat, fica-se satisfeito consigo mesmo porque se
demonstrou saber e decepcionado com o vizinho ou colega, que não entendeu a
frase linda e bem sonante que ouviu e que, prazenteiramente, lhe dissemos.
E, desta “Conversa
da Treta”, que lucraram os interlocutores? Nada, para além do convívio e do
alimento do ego.
Vem toda esta
algaraviada a propósito de uma pergunta que me foi feita num blog: “Quantas
pessoas pensas tu que lêem os teus textos até ao fim?”
Sei que são
algumas. Não muitas, mas algumas.
Que, da mesma
forma que procuro que aquilo que vou aprendendo seja algo mais que o conteúdo
de um guia prático e, de preferência, com mais de 300 palavras, também tento
que as minhas argumentações não se fiquem só pela rama.
Que frases feitas
há-as nos dicionários humorísticos e conhecimento em pó suspeito que em
supermercados e, certamente, em instituições de ensino por atacado.
By me
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