Teria eu 11 anos?
Talvez, pelo que recordo do trajecto desta história.
No autocarro onde
viajava naquele dia, a caminho da escola, levantou-se reboliço.
A altercação punha
em campos opostos um façanhudo cobrador da Carris, que exigia o pagamento do
bilhete, e uma senhora, que afirmava ter deixado o porta-moedas em casa e não
poder pagar.
De alicate em
riste, o zeloso funcionário ameaçava com multa, ameaçava com polícia, ameaçava
com os quintos do inferno. Com os olhos já húmidos, a senhora bem que rebuscava
a carteira em busca do porta-moedas, mas este não parava por lá. A coisa estava
a ficar feia e nenhum de nós, passageiros, estava a gostar de ver.
Pegando no meu
próprio porta-moedas, com uma coragem que não me conhecia, propus-me pagar eu o
bilhete.
Quinze tostões
(seriam?) depois, o bilhete regulamentarmente arrancado do bloco e obliterado
pelo tenebroso alicate, e as coisas acalmaram.
Não me recordo de
que mais coisas terei falado com aquela passageira, mas alguma coisa foi,
certamente.
Passado algum
tempo (dias, semanas?), foi um alvoroço em minha casa. Fora encontrada na caixa
do correio uma carta que me era dirigida. Devidamente estampilhada e carimbada
pelos correios. Nunca eu tinha recebido uma carta pelo correio e o espanto foi
natural.
Do tamanho de um
cartão de visita (correio normalizado era coisa desconhecida) continha um
cartão e selos.
No verso do cartão
de visita, a referida senhora escrevera umas palavras amáveis de agradecimento
(não me recordo de quais) e os selos correspondiam ao valor do bilhete que lhe
havia pago.
Não me recordo em
que mês se passou este episódio.
Mas, fosse qual
fosse, chamar-se-ia Dezembro certamente.
Afinal, é Natal
quando um homem, mulher ou criança quiser.
By me
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