Temos a largura, a
altura e o comprimento. E inventamos maneiras e processos de subir mais alto,
de viajar mais longe, de controlar a nossa largura.
Mas sobre a quarta
dimensão pouco mais podemos fazer que constatá-la. Sobre o tempo, podemos
medi-lo, podemos saber o que existe numa das semi-rectas cuja origem é o
instante em que nos encontramos e cujo prolongamento é o passado. Sobre a
outra, sobre o futuro, mais não podemos fazer que especular, supor, desejar.
Mas talvez porque
sobre o futuro não temos certezas, procuramos ter todas as possíveis sobre o
passado. É uma espécie de monomania da humanidade, o saber o que aconteceu. E a
isto chama-se História. Que tanto existe enquanto ciência e investigação quanto
por curiosidade individual.
Esta preocupação
sobre a Historia prende-se, creio eu, com a necessidade de sabermos o que somos
ou porque somos. E vamos buscar no passado e às raízes da humanidade ou às
árvores genealógicas os argumentos que nos definem ou caracterizam. Como povos,
civilizações, pessoas ou famílias.
Claro que também é
ao passado que vamos buscar as bases das regras sociais, as que definem
relações e comportamentos. Porque, se no passado eram regras e métodos que
deram certo, mantenhamo-las. Que inventar ou inovar dá trabalho!
E se nas
civilizações mais antigas, solidamente instaladas na linha do tempo e do
espaço, esta procura do saber não tem foros de preocupação, naquelas outras que
resultam da fusão de povos por migração ou colonização, pode ser uma obsessão.
Saber quem foram
os pais, avós, bisavós, qual a linhagem, se ainda há parentes vivos por lá, de
onde se descende, é uma afirmação ou resposta comum, como que uma identificação
social. E não o saber acaba por ser, em muitos casos, uma pesquisa a efectuar.
Em tempos conheci
uma senhora via web que tinha como objectivo na vida o encontrar os vestígios
da sua origem. Nascida no Brasil, havia que procurar por cá, Portugal, de onde
tinham ido os antepassados.
De alguma forma
colaborei nessa investigação, sem mesmo sair daqui do computador, e vim a
encontrar referencias que remontavam ao reinado de D. Sebastião e a sua
expedição africana.
Por outro lado,
conheço alguém cuja relação com a história e raízes é exactamente a oposta.
Tendo também
nascido no Brasil, possui um antepassado oriundo de terras lusas. Questionado
sobre de onde, soube dizer, depois de evitar a pergunta, que nem desconfiava,
já que ele tinha rumado para lá na condição de degredado.
O orgulho ou o seu
oposto – a vergonha – nos que os antepassados foram ou fizeram repercute-se na
pele de cada um. Uma espécie de continuo do tempo, como se fossemos a
perpetuação da glória ou delito do passado. A mácula do pecado original ou o
orgulho do povo eleito.
Mas se o espaço
não é modificável, que uma distancia é uma distância, também o tempo é
imutável. E o importante no caminho que fizemos – nós mesmos ou os antepassados
– é com ele aprendermos e, na nossa própria viagem ou da dos vindouros,
evitarmos repetir os erros e melhor contornarmos os escolhos.
Até porque a luz
alumia-nos o caminho à frente, não importando muito as sombras atrás de nós.
By me
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