Aqueles que vão
vendo as imagens que vou fazendo e, quiçá, lendo as palavras que vou
escrevendo, sabem que tenho uma especial predilecção pela luz que vem do lado de
lá. Do lado de lá da linha de ombros, do lado de lá da boca de cena, do lado de
lá do assunto.
É este o tipo de
luz de que gosto e que concebo, concretizo e uso inúmeras vezes. Nem sempre,
porque nem sempre se aplica, mas uma muito grande parte das vezes.
Mesmo quando a luz
não é controlável por mim, porque estou num local público ou porque provem do
sol, procuro inconscientemente essa solução, pondo-me de frente para ela.
Mas sendo certo
que procuro esta luz porque gosto de ver e mostrar os contornos acentuadamente,
por gosto de sentir a opacidade e a translucidez do que fotografo, porque gosto
de “ver através de”, indo para além da superfície reflectora dos assuntos,
mesmo num pôr-do-sol é isso que procuro.
A situação
convencional de o sol no horizonte, com ou sem nuvens, com ou sem silhuetas marítimas,
campestres ou citadinas, não me satisfaz.
Um pôr-do-sol,
para mim, para além do que acontece lá terá que ter algo cá. Um primeiro plano
forte ou nem tanto, opaco ou translúcido se possível.
Não apenas reforça
essa minha preferência como ajuda a colocar o espectador naquele ponto exacto
onde estive, vendo exactamente como vi.
E é importante
fotografar um pôr-do-sol? Nada importante!
Até porque,
convenhamos, será o fenómeno natural mais fotografado desde que a fotografia é
fotografia.
Mas eu não
fotografo para que seja importante. Ou diferente.
Limito-me a fazer
o registo visual daquilo que me aqueceu a alma. Deixo a originalidade e a
competição para os que entendem que ter um lugar no pódio da vida é vital para
a sua sobrevivência.
By me
Sem comentários:
Enviar um comentário