domingo, 17 de março de 2024

Extremos




Esta objectiva foi um ponto de viragem para mim: Uma Samyang 14mm 1:3,1.
Sabemos que cada fotógrafo tem um tipo de objectiva preferido. Perto da 50mm, meia teleobjectiva, grande angular... cada um tem a sua própria abordagem ao mundo que o circunda.
Durante muitos anos a 90mm foi a minha preferida. Por vezes bem acima, muito raramente abaixo.
Esta preferência prende-se, parece-me, com dois factores: personalidade e deformação profissional.
A minha carreira foi a de operador de câmara de televisão e controlo de imagem de tv. Em estúdio maioritariamente. E esta actividade, ainda que tenha semelhanças com fotografia, tem algumas diferenças notórias.
Se, por um lado, é um trabalho de equipa, entre os diversos operadores e sob a orientação de um director ou realizador, por outro implica uma distância ao assunto controlada.
O facto de serem várias câmaras em simultâneo implica que não nos podemos aproximar demasiado ou perturbamos o trabalho das restantes. Por outro, a luz existente, pré desenhada e dificilmente ajustada durante os programas, define eixos e distâncias de trabalho que não podem ser ignorados. Por outro ainda, o tipo de perspectiva apresentada ao público tem que ser, salvo algumas excepções, tranquilo. Imagens com perspectivas muito próximas não o são.
Assim e durante anos, bastantes, a minha visão com um sistema de captação de imagem foi sendo formatada para uma escala e perspectiva a alguma distância. A 90mm ou maior, em Full Frame, corresponde a isso.
Mesmo que em fotografia eu não estivesse limitado ao acima dito, de algum modo a grande angular nunca me permitiu ter uma abordagem visual que me satisfizesse. 
Claro que muitas foram as situações em que a usei. Quer fosse pela proximidade ao assunto que não podia controlar, quer fosse pelo tamanho do assunto, que não “cabia” de outro modo, quer fosse por ser essa a perspectiva desejada.
Acontece que um dia, não há muitos anos, vi um anúncio desta objectiva on-line. Nova. A um preço barato e que podia pagar. Disse então, de mim para mim:
“Tu sabes trabalhar com estes ângulos, apenas não estás habituado a usá-los. Vai praticar!”
Continua a não ser um ângulo de visão que me seja confortável. Quando a coloco na câmara levo mais tempo, e nem sempre consigo, fazer um enquadramento que me agrade ou a encontrar a perspectiva “certa” para o que quero contar. E continuo a aprender a trabalhar com ela.
De quando em vez saio de casa com ela colocada na câmara. Com a firme decisão de que nesse dia essa ir ser essa a minha visão. Claro que comigo estão mais uma ou duas que sei que me satisfazem e que, em caso de extrema necessidade, as posso usar. Mas tento formatar a minha mente e actos para este extremo ângulo de visão e correspondente perspectiva. E eu gosto de desafios.

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5
By me

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