terça-feira, 12 de março de 2024

A primeira




Quando comecei as minhas actividades lectivas cometi muitos erros naturalmente. Recordo um, maior que um comboio, que foi uma lição enorme para mim.
Explicava eu à turma as diferenças entre grande angular e teleobjectiva e, de permeio, a normal.
Querendo ser engraçadinho, perguntei-lhes se sabiam porque a 50mm era chamada de normal. Não sabiam e eu disse-lhes que se chamava assim porque era a que normalmente vinha com as câmaras.
Claro que me ri desta alarvidade e, de seguida, expliquei-lhes o conceito genérico do ângulo de visão da 50mm corresponder ao ângulo de visão normal do humano.
Na aula seguinte, e para tomar balanço, voltei a perguntar-lhes se sabiam porque a 50mm era a normal.
Uma aluna consultou os seus apontamentos e disse, citando-me, que era porque era as que normalmente vinham com as câmaras.
Fiquei estarrecido!
A jovem (recordo-lhe o nome, o rosto e o lugar onde se sentava) tinha acabado de citar o professor e eu não lhe podia dizer que estava errada. Apenas que tinha sido uma brincadeira. 
Mas a minha credibilidade tinha sido posta em causa com o meu disparate. E, eventualmente, com a sua menor atenção ao que eu havia dito em seguida. Talvez porque estivesse a tomar notas.
E a credibilidade é a pedra basilar de qualquer professor. Mestre, formador, instrutor, o que lhe queiram chamar. Sem ela, a aprendizagem não acontece com a solidêz ou celeridade que se deseja.
Mas cometi um outro erro, que talvez não seja erro: não lhes expliquei que aquela definição de ângulo de visão normal é um absurdo. É o resultado de estatísticas de ordem física, que ignoram por completo a personalidade de quem vê, o seu estado emocional, o ambiente em que se encontra...
Até mesmo do ponto de vista fisiológico esta generalização é apenas isso: uma generalização, não sabendo eu qual a percentagem de gente que assim vê.
Hoje não poderia dizer o que disse. Mesmo que com adolescentes, teria que explicar estes outros factores, mesmo que por alto. E hoje é raro encontrar uma câmara nova no mercado que tenha por kit uma objectiva fixa (ou primária) com 47º de visão na diagonal. 
Em regra o que se encontra é uma pequena zoom, que é das piores coisas que existem para aprender a fotografar.
Esta foi a minha primeira objectiva, que acompanhava a minha primeira SLR – uma Pentax MX.
Pentax K1 mkII, Pentax- M 35mm 1:2

By me

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