terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Um olhar



Ucraniano.
Viera para Portugal, em busca de trabalho. Condigno.
Esteve como pedreiro nas obras. Umas vezes pagavam, outras não, mas lá ia vivendo como podia.
Um dia roubaram-lhe os documentos, nas obras. Dias depois caiu e partiu um pé.
Ficou sem trabalho e o osso partido soldou naturalmente e fora do lugar, que teve medo de ir a um hospital dada a sua situação no país.
Nunca mais arranjou trabalho, que o seu coxear o afasta do que sabe fazer: obras.
Vive a arrumar carros – sem álcool nem drogas, soube enfatizar-mo – e com a ajuda, pouca, de alguns conterrâneos.
Conhecemo-nos quando partilhámos um abrigo de um toldo, numa manhã de natal, na baixa de Lisboa. Pediu-me um cigarro enquanto esperávamos que a chuva amainasse. E cavaqueamos um nico.
A chuva parou e chegou um carro. Nunca mais o vi.


Passados que são alguns anos, e aproximando-se o aniversário desta fotografia, pergunto-me por onde andará Michel.

By me

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