O texto que abaixo
se transcreve é o que vem publicado hoje, numa dessas folhas de couve a que se
dá o nome de jornal gratuito.
O assunto é polémico
e chamou-me a atenção, sendo que o título era o principal da capa, visível no
banco da estação de caminho-de-ferro. Recortei o artigo e li-o.
Leia-se e passe-se
para o que o segue:
“Estar sempre
contactável, disponível do outro lado de um qualquer dispositivo ou alerta para
o que se passa no mundo é uma das vantagens das novas tecnologias. Mas de acordo
com um estudo da universidade austríaca de Alpen-Adria, os efeitos dos novos
meios de comunicação estão a transformar o ambiente de trabalho. E nem sempre para
melhor. Revela a investigação que a última coisa que 30% dos inquiridos fazem
antes de se deitar é verificar o seu e-mail, rotina que cumprem novamente pela manhã,
assim que se levantam.
Ainda de acordo
com a mesma sondagem, realizada com a participação de 445 pessoas, apenas 5%
dos inquiridos não estão disponíveis para as empresas onde trabalham ou para os
clientes durante o seu tempo de lazer.
O que prova que
mudam os tempos e mudam também as exigências e os desafios colocados aos
trabalhadores, a quem se pede cada vez mais
capacidades tecnológicas
e se exige «condições de trabalho flexíveis, sem
a definição de
fronteiras», explica Caroline Roth-Ebner, coordenadora do
estudo. Até porque,
acrescenta a especialista, o escritório móvel – os
e-mails estão
acessíveis no smartphone ou no portátil – requer um esforço
crescente para gerir
as fronteiras entre o que é ou não trabalho.”
Achei estranho as
referências a uma universidade e a um universo de inquiridos e fui investigar.
Saiba-se que foi mesmo feito mas (e há sempre um mas) o universo de inquiridos
prendia-se com gente que depende de comunicações em permanência para trabalhar.
E para competir no trabalho.
Em nada se prende
com operários, ou serviços de atendimento pessoal ou outras profissões em que o
tele-trabalho e a conectividade sejam secundárias.
Assim se manipula
a opinião pública, assim se molda e se induz a comportamentos desviantes.
Porque,
entenda-se, considerar que o tempo de “não trabalho” como sendo “tempo de lazer”
é completamente desviante. Desviante da qualidade de vida, desviante da atenção
que família e amigos necessitam, desviante de tudo o que é viver, excepto os
lucros que empregadores possam tirar daquilo que fazemos.
A escravidão instituída
foi extinta. E Portugal foi dos primeiros a fazê-lo.
Parece, no
entanto, que alguns querem fazê-la voltar. Desta feita sem grilhetas, navios
negreiros, capatazes ou chicotes. Basta usar as tecnologias. E com a ajuda de
alguns jornalistas – perdão, jornaleiros – que nem sequer sabem traduzir e
resumir uma notícia sobre um estudo científico publicado numa universidade.
By me
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