quinta-feira, 6 de junho de 2013



O texto que abaixo se transcreve é o que vem publicado hoje, numa dessas folhas de couve a que se dá o nome de jornal gratuito.
O assunto é polémico e chamou-me a atenção, sendo que o título era o principal da capa, visível no banco da estação de caminho-de-ferro. Recortei o artigo e li-o.
Leia-se e passe-se para o que o segue:

“Estar sempre contactável, disponível do outro lado de um qualquer dispositivo ou alerta para o que se passa no mundo é uma das vantagens das novas tecnologias. Mas de acordo com um estudo da universidade austríaca de Alpen-Adria, os efeitos dos novos meios de comunicação estão a transformar o ambiente de trabalho. E nem sempre para melhor. Revela a investigação que a última coisa que 30% dos inquiridos fazem antes de se deitar é verificar o seu e-mail, rotina que cumprem novamente pela manhã, assim que se levantam.
Ainda de acordo com a mesma sondagem, realizada com a participação de 445 pessoas, apenas 5% dos inquiridos não estão disponíveis para as empresas onde trabalham ou para os clientes durante o seu tempo de lazer.
O que prova que mudam os tempos e mudam também as exigências e os desafios colocados aos trabalhadores, a quem se pede cada vez mais
capacidades tecnológicas e se exige «condições de trabalho flexíveis, sem
a definição de fronteiras», explica Caroline Roth-Ebner, coordenadora do
estudo. Até porque, acrescenta a especialista, o escritório móvel – os
e-mails estão acessíveis no smartphone ou no portátil – requer um esforço
crescente para gerir as fronteiras entre o que é ou não trabalho.”

Achei estranho as referências a uma universidade e a um universo de inquiridos e fui investigar. Saiba-se que foi mesmo feito mas (e há sempre um mas) o universo de inquiridos prendia-se com gente que depende de comunicações em permanência para trabalhar. E para competir no trabalho.
Em nada se prende com operários, ou serviços de atendimento pessoal ou outras profissões em que o tele-trabalho e a conectividade sejam secundárias.

Assim se manipula a opinião pública, assim se molda e se induz a comportamentos desviantes.
Porque, entenda-se, considerar que o tempo de “não trabalho” como sendo “tempo de lazer” é completamente desviante. Desviante da qualidade de vida, desviante da atenção que família e amigos necessitam, desviante de tudo o que é viver, excepto os lucros que empregadores possam tirar daquilo que fazemos.
A escravidão instituída foi extinta. E Portugal foi dos primeiros a fazê-lo.

Parece, no entanto, que alguns querem fazê-la voltar. Desta feita sem grilhetas, navios negreiros, capatazes ou chicotes. Basta usar as tecnologias. E com a ajuda de alguns jornalistas – perdão, jornaleiros – que nem sequer sabem traduzir e resumir uma notícia sobre um estudo científico publicado numa universidade.

By me 

Sem comentários: