Há
anos que venho argumentado que fazer fotografia implica algum tipo de empatia
com o assunto retratado. Empatia positiva ou negativa, tanto faz. Mas tem que
existir.
Aprendi
isto com os que fui admirando, de Adams a Weegee, de Weston a Feininger, de
Lopes a Capa, para citar apenas alguns. E com um híbrido de Ocidente com
Oriente, nunca muito bem definido nem aprofundado.
Mas,
garantidamente, com os meus próprios erros e dificuldades. Analisar o que faço,
reconhecer-lhe aquilo que gostaria de aí ver e comparar isso com o que penso ou
sinto. Quando coincide, bate certo, quando não, mais vale arquivar.
O
difícil é conseguir fazer o registo de algo sem que se o entenda ou sinta.
Claro que a luz, as formas, as cores e as perspectivas estão lá. Mas falta
sempre algo.
Este
é um dos exemplos.
Trata-se
de um jardim em Lisboa, o jardim do Arco do Cego.
Conheço-o
desde há anos, quase desde que foi inaugurado. Tem gente, tem bancos, tem relva
e tem árvores, tem pombos e tem cães. Até tem flores, na altura própria. Está
entre a arqueologia industrial preservada e a zona residencial. Bordeja-o uma
avenida agora renovada, com passeios largos, esplanadas e estação de metro,
junto com outras, traçadas a régua e esquadro como a topologia e a época
permitiam. Comércio e serviços por aqui não faltam. E, mesmo sendo um dos mais
novos jardins da cidade, já tem vida própria e características que o
diferenciam dos demais.
No
entanto, e apesar disso saber, ainda não consegui fazer-lhe um retrato que me
convença. Tenho mostrado o que lá acontece, quase que como fotocópia, sem alma
ou substância. Nenhuma das muitas fotografias que ali fiz conta o que aquilo é.
O
mais grave, no entanto, é que sempre que por lá passo e estou não consigo
aquilatar do que sinto. É como se houvesse uma empatia racional com o lugar,
mas nenhuma outra emocional. Como que um vazio de sentimentos, qual o seu
espaço relvado, apesar de gostar do lugar.
Talvez
que haja aqui uma incongruência entre a relva e os eléctricos e autocarros que
aqui parquevam. Talvez que haja uma dissonância entre o para aqui vir, usufruir
do espaço e soltar os cães ou beber umas cervejas compradas no supermercado ao
lado e o chegar e partir dos transportes urbanos ou de longo curso que durante lustros
aqui aconteceu. Talvez que o local de passagem ainda se não tenha transformado num
local de paragem. Talvez que esse não bater certo ainda não tenha definido uma
aura ou energia no local e gentes, fazendo deste jardim bonito de ver algo sem
alma.
E
talvez seja por isso que a não sinto e não consigo registar.
Ficam-me
as constatações e as dúvidas. E a certeza de continuar a tentar até dele
regressar com algo que me convença. Uma photographia. Até lá, não passarão de
meras fotos.
By me
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