sexta-feira, 7 de junho de 2013

Fotos e photographias



Há anos que venho argumentado que fazer fotografia implica algum tipo de empatia com o assunto retratado. Empatia positiva ou negativa, tanto faz. Mas tem que existir.
Aprendi isto com os que fui admirando, de Adams a Weegee, de Weston a Feininger, de Lopes a Capa, para citar apenas alguns. E com um híbrido de Ocidente com Oriente, nunca muito bem definido nem aprofundado.
Mas, garantidamente, com os meus próprios erros e dificuldades. Analisar o que faço, reconhecer-lhe aquilo que gostaria de aí ver e comparar isso com o que penso ou sinto. Quando coincide, bate certo, quando não, mais vale arquivar.
O difícil é conseguir fazer o registo de algo sem que se o entenda ou sinta. Claro que a luz, as formas, as cores e as perspectivas estão lá. Mas falta sempre algo.
Este é um dos exemplos.
Trata-se de um jardim em Lisboa, o jardim do Arco do Cego.
Conheço-o desde há anos, quase desde que foi inaugurado. Tem gente, tem bancos, tem relva e tem árvores, tem pombos e tem cães. Até tem flores, na altura própria. Está entre a arqueologia industrial preservada e a zona residencial. Bordeja-o uma avenida agora renovada, com passeios largos, esplanadas e estação de metro, junto com outras, traçadas a régua e esquadro como a topologia e a época permitiam. Comércio e serviços por aqui não faltam. E, mesmo sendo um dos mais novos jardins da cidade, já tem vida própria e características que o diferenciam dos demais.
No entanto, e apesar disso saber, ainda não consegui fazer-lhe um retrato que me convença. Tenho mostrado o que lá acontece, quase que como fotocópia, sem alma ou substância. Nenhuma das muitas fotografias que ali fiz conta o que aquilo é.
O mais grave, no entanto, é que sempre que por lá passo e estou não consigo aquilatar do que sinto. É como se houvesse uma empatia racional com o lugar, mas nenhuma outra emocional. Como que um vazio de sentimentos, qual o seu espaço relvado, apesar de gostar do lugar.
Talvez que haja aqui uma incongruência entre a relva e os eléctricos e autocarros que aqui parquevam. Talvez que haja uma dissonância entre o para aqui vir, usufruir do espaço e soltar os cães ou beber umas cervejas compradas no supermercado ao lado e o chegar e partir dos transportes urbanos ou de longo curso que durante lustros aqui aconteceu. Talvez que o local de passagem ainda se não tenha transformado num local de paragem. Talvez que esse não bater certo ainda não tenha definido uma aura ou energia no local e gentes, fazendo deste jardim bonito de ver algo sem alma.
E talvez seja por isso que a não sinto e não consigo registar.

Ficam-me as constatações e as dúvidas. E a certeza de continuar a tentar até dele regressar com algo que me convença. Uma photographia. Até lá, não passarão de meras fotos.

By me 

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