Estávamos
no limite da luz solar. Eu, parado no largo do Carmo, em Lisboa, olhava para
uma das vergonhas da cidade: o monumento a Salgueiro Maia.
Ao
que sei, é o único na capital e está colocado num local icónico: em frente ao
comando da GNR, onde Salgueiro Maia comandou, à frente das suas tropas e no
meio da multidão, a rendição de Marcelo Caetano, então primeiro-ministro.
E,
para quem não sabe, isto sucedeu em 25 de Abril de 1974.
A
vergonha da cidade é o seu monumento: uma placa no chão, com referência ao nome
e actos. Bem no meio do caminho de quem ali passe, sem que nada impeça que seja
pisada ou que para ela chame a atenção.
Pois
estava eu, uma vez mais, a constatar esta vergonhosa homenagem quando um casal
de turistas, entretidos a “turistar”, iam a passar por cima dela. Assustou-se a
senhora, já de idade, com o eu estar a olhar, deu uns passos atrás e tentou
ler. Não sabia o suficiente de português para tal, p’lo que os interpelei e
lhes expliquei de que se tratava.
Foram-se,
com o seu turismo mais alargado do que esperariam, e fiquei eu, mudo e quedo,
triste com o quase apagar da história que por cá se vai fazendo.
Não
ficou, porém, a fotografia. Nem a luz ajudava, nem eu estava com disposição
para registar vergonhas. Talvez que um dia eu tenha coragem p’ra tal.
By me
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