terça-feira, 11 de junho de 2013

E, ironicamente, aconteceu no dez de Junho



Estávamos no limite da luz solar. Eu, parado no largo do Carmo, em Lisboa, olhava para uma das vergonhas da cidade: o monumento a Salgueiro Maia.
Ao que sei, é o único na capital e está colocado num local icónico: em frente ao comando da GNR, onde Salgueiro Maia comandou, à frente das suas tropas e no meio da multidão, a rendição de Marcelo Caetano, então primeiro-ministro.
E, para quem não sabe, isto sucedeu em 25 de Abril de 1974.
A vergonha da cidade é o seu monumento: uma placa no chão, com referência ao nome e actos. Bem no meio do caminho de quem ali passe, sem que nada impeça que seja pisada ou que para ela chame a atenção.
Pois estava eu, uma vez mais, a constatar esta vergonhosa homenagem quando um casal de turistas, entretidos a “turistar”, iam a passar por cima dela. Assustou-se a senhora, já de idade, com o eu estar a olhar, deu uns passos atrás e tentou ler. Não sabia o suficiente de português para tal, p’lo que os interpelei e lhes expliquei de que se tratava.
Foram-se, com o seu turismo mais alargado do que esperariam, e fiquei eu, mudo e quedo, triste com o quase apagar da história que por cá se vai fazendo.

Não ficou, porém, a fotografia. Nem a luz ajudava, nem eu estava com disposição para registar vergonhas. Talvez que um dia eu tenha coragem p’ra tal.

By me

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