quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Formação e diplomas


Ao longo dos anos, muitos têm sido os que se têm vindo a juntar ao grupo dos que fazem televisão. Novatos ou maçaricos, como eu próprio já fui ou, melhor ainda, como gosto de continuar a ser, procurando aprender a cada dia que passa.
À medida que vinham surgindo, as origens ou experiências que traziam iam variando:
De inicio eram nenhuma, que televisão não se fazia em nenhum outro lugar. Eventualmente vinham com conhecimentos e interesses no campos da fotografia ou do cinema. Mas, apoiados em cursos de formação ministrados na empresa e enquadrados pelos mais velhos, de alguma forma, e à medida das suas capacidades, acabavam por igualar os mais antigos e serem capazes de fazer qualquer trabalho.
Mas, com o passar dos tempos, foram surgindo escolas que proporcionavam cursos na área da televisão e audiovisual. Uma mais-valia para quem chegava: juntavam os conhecimentos práticos (reduzidos, como seria de esperar) aos teóricos e estéticos, bem mais difícil de ministrar em cursos de formação de poucas semanas. Acrescentando a isto, a prática com os mais experientes no trabalho e estavam criadas as condições para se obterem, em pouco tempo, bons profissionais.
Mas o tempo continuou a passar e os cursos privados nesta área foram aumentando. Mais escolas, mais alunos, mais professores, mais saídas profissionais, que o mercado aumentava, mais especializações. E o resultado foi bem o oposto do que seria de esperar.
Estes novatos vêm-se apresentado no mercado de trabalho menos bem preparados em termos teóricos que os que formados nos primeiros cursos. Pelo menos essa é a minha opinião, feita a partir de os receber à chegada e de os acompanhar durante os primeiros tempos de ofício. E de, durante algum tempo, ter leccionado em algumas dessas escolas.
Surpreendido com esta constatação, fui dando alguma margem de dúvida ao que pensava, supondo que, com a idade, eu mesmo estaria a ficar mais exigente ou menos tolerante para com os novatos.
O que me vem deixando apreensivo é o já ter ouvido alguns recém-formados por essas escolas o mesmo tipo de queixas: sentem-se mal preparados para ingressar no mercado de trabalho! Sabem manusear a ferramenta, o que produzem está dentro das expectativas, mas não sabem ou não entendem o porquê do que fazem. Em plena consonância com o que eu mesmo venho constatando.
E a questão põe-se no porquê disto.
Estarão essas mesmas escolas a baixar os seus padrões de qualidade e exigência, face ao aumento do número de estabelecimentos de ensino concorrentes? Será que os bons professores (ou competentes ajudantes de aprendizagem) se dividem por todos elas, fiando os lugares vagos ocupados por menos competentes? Será que, por haver mais escolas na matéria, haverá mais alunos a inscreverem-se, não por sentirem verdadeira vocação para a actividade, mas antes por ser uma alternativa ao ensino regular, onde nem sempre obtêm aproveitamento? Será que no negócio de “Eu cobro para ensinar, eu pago para aprender” o mais importante é a obtenção ou venda de um diploma, independentemente do mérito a que ele possa ou não corresponder?
Sejam quais forem as questões e as repostas sobre a questão, estas ou quaisquer outras, a verdade é que continuamos, e cada vez mais, a ter jovens a frequentar cursos e a, com isso, despenderem dinheiro e tempo, para com isso obterem um resultado que não é o expectável. Nem por parte deles, que o pagaram e gastaram, nem por parte dos empregadores, que acabam por ter técnicos menos bons nos seus quadros e a, ou investirem na sua formação, ou à menos qualidade não dar importância.
Pior que tudo isto é o eu acreditar que o que se passa no mundo da televisão e dos audiovisuais acontece em muitas, senão todas, as áreas do conhecimento e produção. E, com isto, criarmos uma sociedade diplomada mas incompetente.
E, consequentemente, uma sociedade estagnada e infeliz!


Texto e imagem: by me

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