Já eu estava envolvido nas primeiras carícias de Morfeu quando, vindo da rua, subindo ao meu terceiro andar e entrando pela minha janela fechada, me chega aos ouvidos um ruído terrível. Haverá quem lhe chame música mas, para mim, com a quase total ausência de melodia e harmonia e o ritmo a dominar tudo, não lhe dou esse nome. Menos ainda quando o seu volume é tal que consegue tirar do sério e do sono meio quarteirão, em pouco passando da uma da madrugada. Num bairro onde tais situações são mais que raras.
Nada satisfeito, até porque sei que, em ele se indo, tenho dificuldade em chamar de novo o sono, fui à janela tentar perceber o que se passava.
Mesmo em frente a ela, três pisos abaixo, um homem e duas mulheres, aparentando pouca idade, entretinham-se em conversa junto de um carro que, de portas abertas, vomitava por elas a plena potência do seu sistema sonoro. Até que, por entre risos e gargalhadas, recolheram alguns pertences, que me pareceram ser de praia, e entraram para o prédio contíguo. Deixando o carro fechado e calado.
Não gostei! Nem um pingo! Devo dizer mesmo que fiquei fulo da vida! E, em sabendo o meu sono distante, enfiei umas peças de roupa e desci à rua. Pela posição mais que irregular do carro estacionado, o seu dono deveria voltar em breve, e ali me teria para me ouvir, ainda antes de ouvir de novo a chinfrineira demoníaca.
Para me entreter, fui testando os limites da minha “câmara-fotográfica-que-também-faz-chamadas-telefónicas”. E constatei aquilo que suponha ter por certo: até pouco mais de um metro, o flash ainda serve para alguma coisa. Mas para além disso é inútil. Pelo que improvisei ali mesmo um suporte de emergência para a imagem que aqui vedes. E em muito “trabalhada” para que alguma coisa se veja. Sei que o grão abunda, mas mais não tinha ali para o registo.
O motivo que demorou o dono do carro no interior da casa que não identifiquei foi maior que a minha paciência, pelo que acabei por me retirar. Juro que o carro ficou incólume. E, de manhã, já ali não estava. E como as restantes viaturas que ele bloqueava não se queixaram para sair, deve ter ido embora ainda antes do nascer do dia, que não ouvi protestos de buzinas.
Mas, se por mero acaso, encontrarem este carro e o respectivo dono, podem dar-lhe da minha parte algo do responso que eu mesmo lhe daria. E se quiserem dar uso a alguma bengala nodosa, parecida com a que eu tinha comigo nesta noite, não tenham cerimónias: façam de conta que era eu mesmo, que depois logo acabo a conversa!
Texto e imagem: by me
Nada satisfeito, até porque sei que, em ele se indo, tenho dificuldade em chamar de novo o sono, fui à janela tentar perceber o que se passava.
Mesmo em frente a ela, três pisos abaixo, um homem e duas mulheres, aparentando pouca idade, entretinham-se em conversa junto de um carro que, de portas abertas, vomitava por elas a plena potência do seu sistema sonoro. Até que, por entre risos e gargalhadas, recolheram alguns pertences, que me pareceram ser de praia, e entraram para o prédio contíguo. Deixando o carro fechado e calado.
Não gostei! Nem um pingo! Devo dizer mesmo que fiquei fulo da vida! E, em sabendo o meu sono distante, enfiei umas peças de roupa e desci à rua. Pela posição mais que irregular do carro estacionado, o seu dono deveria voltar em breve, e ali me teria para me ouvir, ainda antes de ouvir de novo a chinfrineira demoníaca.
Para me entreter, fui testando os limites da minha “câmara-fotográfica-que-também-faz-chamadas-telefónicas”. E constatei aquilo que suponha ter por certo: até pouco mais de um metro, o flash ainda serve para alguma coisa. Mas para além disso é inútil. Pelo que improvisei ali mesmo um suporte de emergência para a imagem que aqui vedes. E em muito “trabalhada” para que alguma coisa se veja. Sei que o grão abunda, mas mais não tinha ali para o registo.
O motivo que demorou o dono do carro no interior da casa que não identifiquei foi maior que a minha paciência, pelo que acabei por me retirar. Juro que o carro ficou incólume. E, de manhã, já ali não estava. E como as restantes viaturas que ele bloqueava não se queixaram para sair, deve ter ido embora ainda antes do nascer do dia, que não ouvi protestos de buzinas.
Mas, se por mero acaso, encontrarem este carro e o respectivo dono, podem dar-lhe da minha parte algo do responso que eu mesmo lhe daria. E se quiserem dar uso a alguma bengala nodosa, parecida com a que eu tinha comigo nesta noite, não tenham cerimónias: façam de conta que era eu mesmo, que depois logo acabo a conversa!
Texto e imagem: by me
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