Não, não gosto de
dinheiro!
Começando pelo
simples facto de, ele mesmo, ser coisa alguma. Não é mais que um símbolo,
representando os valores que atribuímos ao que temos ou produzimos. O dinheiro
é uma ilusão! Uma mera equivalência!
Segue-se que cada
um de nós não possui o dinheiro que tem na carteira ou bolso. É propriedade do
banco emissor e qualquer tentativa de danificar ou destruir notas ou moedas é
punível por lei. O dinheiro que supostamente ganhamos não nos pertence!
Claro que também
há que considerar que o dinheiro que não possuímos e que é uma ilusão está mal
distribuído. Pessoas há que, por o terem em abundância, comem para além da
saciedade, deitando fora os restos e sobras, enquanto que outros, à míngua de o
terem, comem aquém do básico, e dos detritos dos outros. Não se dispor de
dinheiro implica fome e sofrimento.
Acrescente-se que
tudo, ou quase, se faz por dinheiro ou com o fito de o obter. Actos gratuitos,
sem terem por objectivo a obtenção de dinheiro, aquilo que não nos pertence,
que é uma ilusão e que provoca sofrimento, é olhado com desconfiança, por vezes
mesmo com medo. O bastante para ser, frequentemente recusado, por insólito,
porque fora da normalidade, vá-se lá saber o que é “normalidade”! O dinheiro,
origem de sofrimento, ilusão e fugidio, é também um atestado de credibilidade.
Curiosamente,
veja-se a crise mundial recente e constate-se como tudo o que acima dito
corresponde a ela!
Pois tenho para
mim que o dinheiro, não sendo “O” mal da sociedade, é certamente um deles e que
estaríamos bem melhor se ele não existisse ou mesmo se nunca tivesse sido
inventado.
Cada um deveria
exercer a sua actividade, na medida dos seus saberes e capacidades, e ter, sem
ser em troca mas naturalmente, o resultado das actividades dos restantes
elementos da sociedade. Sem dinheiro pelo caminho, que significasse coisa
alguma, sem provocar sofrimento e sem testemunhos de credibilidade. Cada um
vale o que vale por si mesmo e não devido a uma qualquer certificado volátil.
É assim que penso
e que procuro agir, na medida em que a sociedade em que estou inserido o permite.
E se tenho que ter um trabalho que me permita comer, vestir, abrigar e
alimentar, em parte, o espírito, procuro que parte dos meus actos sejam
coerentes com os meus ideais. É o caso da fotografia!
Faço questão de
com ela não fazer negócio, de dela não obter dinheiro em troca. Fotografo se e
quando quero e, no caso de mo pedirem, não cobro nem apresento contas. Na
melhor das hipóteses, espero e sugiro que quem fica com as imagens que produzo
tenha comportamentos equivalentes, usando dos seus saberes e competências em
beneficio da comunidade e sem esperar obter nada em troca.
Conseguir que tal
suceda será o meu lucro, real e palpável, verdadeiro certificado das qualidades
de quem o faz, provocando prazer no lugar de sofrimento. Com a “vantagem” de
não ser colectável em impostos!
Recentemente
pediram-me para fotografar uma família que, indo a um evento de circunstância,
gostaria de ficar com recordações do momento e dos trajes usados. Claro que o
fiz, para prazer mútuo. O problema virá, em breve, na aceitação por parte deles
que não há dinheiro envolvido e que das fotografias já entregues gostaria
apenas de vir a saber que algo de equivalente da parte deles foi feito a
terceiros.
É que, sabem, eu
não gosto mesmo de dinheiro!
By me
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