Já
me aconteceu algumas vezes: encontrar objectos perdidos ou esquecidos.
Carteiras, chaves, documentos de identificação, sacos com objectos diversos.
De
todas elas fiz aquilo que acredito ser o normal: procurar que o legítimo dono
recupere o que é seu.
Já
o fiz deixando o objecto num café nas proximidades. Os cafés são, sabemos, a
praça pública de antanho, junto com mercearias ou farmácias. As pessoas
conhecem-se, trocam ideias e novidades, e há sempre quem saiba da vida dos
vizinhos.
Já
o fiz entregando nas autoridades policiais. No fim de contas, é um lugar seguro
para se deixar o que se encontra e, presume-se, farão bem mais e melhor que eu
para encontrar o proprietário. Nem sempre fui bem recebido neste acto.
De
uma das vezes, recordo-o como se fosse ontem, a agente que me atendeu na
esquadra de Sintra, virou e revirou o que lhe entreguei e, olhando para mim,
perguntou-me pelo resto. Fiquei de tal forma que só fui capaz de responder “Vamos
fazer de conta que a senhora não disse isso e recomeçar a conversa. Encontrei
isso em tal local e gostava que o devolvessem a quem aí está identificado.”
Ficou pálida e lá tratou de registar a ocorrência sem mais insinuações.
De
outra fui recebido com a maior das cordialidades, a carteira foi revistada e
tudo anotado, incluindo o dinheiro que continha, a minha identificação registada
e saí da esquadra com a convicção que o seu dono a recuperaria através do
bilhete de identidade que lá estava.
De
uma outra, e após alguns telefonemas para as escolas cujos cartões referiam,
fiz chegar em mão no dia seguinte a carteira, o dinheiro e o passe, ao jovem
que a havia perdido na estação de comboios, tarde na noite.
Nem estas nem outras histórias equivalentes fazem de mim alguém especial. Fiz o que
tinha que fazer, exactamente como gostaria que alguém o fizesse se fosse ao
contrário. Enquanto cidadão outra coisa não poderia fazer para tranquilidade da
minha consciência.
É
por isso que fico “incomodado” quando leio uma notícia que relata ter sido
devolvido um saco com bastante dinheiro. É uma história que não deveria ter
direito a espaço de jornal. Independentemente da condição social dos intervenientes.
O
devolver a seu dono o que não nos pertence é um acto que deveria ser natural, tão
natural quanto o quer ser aquele a quem é devolvido. E o ser muito dinheiro e
quem o achou ser muito pobre não deveria ser condicionante para que o não seja.
A
honestidade não tem fronteira traçada algures entre cinco e cinquenta euros. Ou
se é ou se não é.
By me
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