segunda-feira, 12 de junho de 2017

A escada



Há uns dias desembarquei numa estação de caminho de ferro e deparei-me com o que já sabia:
A saída das plataformas para o exterior faz-se, exclusivamente, por escadas mecânicas ou por elevador. As bilheteiras encontram-se num piso superior e transversal à linha, evitando assim os atravessamentos no trajecto dos comboios. Segurança e rapidez.
Mas que o que eu esperava também aconteceu: o elevador e a escada desligados.
A única solução é trepar pelos degraus metálicos, que outros não existem nem rampas, vencendo a sua altura que, e é sabido, é muito maior que os de alvenaria.
Fiquei a olhar para aquilo e a ver duas senhoras idosas que se deixaram ficar para últimas para poderem fazer aquele caminho de calvário com a lentidão que o seu peso e maleitas implicavam. De doer a alma.
Quando eu mesmo terminei a escalada, esperava-me o pior:
Um jovem mãe, com um enorme carrinho de bebé com uma minúscula criança a dormir no seu interior, perguntava-se como haveria de descer. Aos saltos naqueles degraus infames não seria e agarrado em braços também não.
Acabei por lhe propor uma solução de compromisso: ela levaria o bebé ao colo e eu desceria com o carrinho.
Desceu ela e esperei eu ao cimo das escadas, que entretanto chegara outro comboio e quem subia não dava espaço para eu descer com aquele volume.
O seu olhar desconfiado lá em baixo bem mostrava o invulgar da nossa situação, mas não encontrei alternativa. Compensou o agradecimento efusivo que exprimiu quando lá cheguei.
Fica a pergunta: E amanhã? E depois? E quem usar muletas ou cadeira de rodas? Ou quem já não tiver forças ao fim do dia para aquele Evereste metálico?

A frieza dos números nas secretárias dos gestores distantes é terrível! E bem que os gostaria de ver confrontados diariamente com aquele suplício.

By me 

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