Não
me apetece bater mais na velhinha! Ainda que o não seja mas para lá caminhe.
Mas
o certo é que não posso deixar passar em claro a questão.
Falo
da mais que infeliz reportagem, feita na tragédia do incêndio deste fim de
semana, por Judite de Sousa.
Não
irei falar de personalidade nem das situações a que assisti do seu desempenho.
Seria personalizar o discurso e não quero envolver-me pessoalmente na questão.
Mas
há aspectos que não podem deixar de ser pensados.
Desde
logo a sensibilidade perante o que ali se passava. Naquela reportagem, com
aquelas imagens e discurso, foram completamente ignorados os sentimentos dos
familiares que, quiçá, ainda nem tinham tido oportunidade de saber como estavam
aqueles com quem ainda não tinham conseguido contactar.
De
seguida a quebra ou ignorância do código deontológico da profissão, fazendo
afirmações sobre a eficácia ou rapidez das autoridades e meios envolvidos sem ouvir,
ou demonstrar que tinha ouvido, essas mesmas entidades. Exactamente o que faz a
turba enfurecida ou em choque. Não o que deverá fazer um jornalista.
Por
fim, a responsabilidade do cargo. Esta profissional foi para o terreno com o
peso de ser experiente e de ocupar um dos mais altos cargos na redacção onde
trabalha. Terá sido escolhida, suponho, por isso mesmo. E para garantir a qualidade
do trabalho efectuado. E quem quer que esteja em cargo directivo num jornal ou
televisão tem a responsabilidade acrescida de garantir que o que é relatado
respeita os códigos, escritos ou implícitos, do ofício e do jornal ou televisão
para quem trabalha. Ser director, adjunto ou chefe não pode ser apenas um título
pomposo, gabinete privado e salário mais elevado que os demais.
O
jornalismo, também conhecido por ser o quarto poder, tem o terrível defeito de
não ser democrático. Não foi eleito, respeita as necessidades económicas de
quem investe no negócio, depende apenas das tiragens ou audiências. E das opiniões,
quantas vezes muito pessoais, de quem escreve ou relata.
Apesar
de terem códigos deontológicos e reguladores oficiais, as normas e recomendações
serão ou não cumpridas de modo inconsequente.
O
público, esse, na sua sede de sangue para exorcizar os seus próprios problemas
ou medos, deixa-se levar na ânsia de saber mais detalhes mórbidos, sem grande
respeito pelos envolvidos ou preocupações sobre o rigor ou isenção do que lê ou
ouve.
E
o negócio da comunicação social vai florescendo, aproveitando-se disso.
Não
vou bater mais na velhinha. Mesmo que, não o sendo ainda, para lá caminhe.
Agora
que tenho a vontade, lá isso tenho. Factualmente. Que se desculparia em parte a
reportagem se ela fosse feita por um inexperiente jornalista, não consigo fazer
neste caso.
By me
Sem comentários:
Enviar um comentário