terça-feira, 20 de junho de 2017

Ética e responsabilidades



Não me apetece bater mais na velhinha! Ainda que o não seja mas para lá caminhe.
Mas o certo é que não posso deixar passar em claro a questão.
Falo da mais que infeliz reportagem, feita na tragédia do incêndio deste fim de semana, por Judite de Sousa.
Não irei falar de personalidade nem das situações a que assisti do seu desempenho. Seria personalizar o discurso e não quero envolver-me pessoalmente na questão.
Mas há aspectos que não podem deixar de ser pensados.
Desde logo a sensibilidade perante o que ali se passava. Naquela reportagem, com aquelas imagens e discurso, foram completamente ignorados os sentimentos dos familiares que, quiçá, ainda nem tinham tido oportunidade de saber como estavam aqueles com quem ainda não tinham conseguido contactar.
De seguida a quebra ou ignorância do código deontológico da profissão, fazendo afirmações sobre a eficácia ou rapidez das autoridades e meios envolvidos sem ouvir, ou demonstrar que tinha ouvido, essas mesmas entidades. Exactamente o que faz a turba enfurecida ou em choque. Não o que deverá fazer um jornalista.
Por fim, a responsabilidade do cargo. Esta profissional foi para o terreno com o peso de ser experiente e de ocupar um dos mais altos cargos na redacção onde trabalha. Terá sido escolhida, suponho, por isso mesmo. E para garantir a qualidade do trabalho efectuado. E quem quer que esteja em cargo directivo num jornal ou televisão tem a responsabilidade acrescida de garantir que o que é relatado respeita os códigos, escritos ou implícitos, do ofício e do jornal ou televisão para quem trabalha. Ser director, adjunto ou chefe não pode ser apenas um título pomposo, gabinete privado e salário mais elevado que os demais.

O jornalismo, também conhecido por ser o quarto poder, tem o terrível defeito de não ser democrático. Não foi eleito, respeita as necessidades económicas de quem investe no negócio, depende apenas das tiragens ou audiências. E das opiniões, quantas vezes muito pessoais, de quem escreve ou relata.
Apesar de terem códigos deontológicos e reguladores oficiais, as normas e recomendações serão ou não cumpridas de modo inconsequente.
O público, esse, na sua sede de sangue para exorcizar os seus próprios problemas ou medos, deixa-se levar na ânsia de saber mais detalhes mórbidos, sem grande respeito pelos envolvidos ou preocupações sobre o rigor ou isenção do que lê ou ouve.
E o negócio da comunicação social vai florescendo, aproveitando-se disso.

Não vou bater mais na velhinha. Mesmo que, não o sendo ainda, para lá caminhe.

Agora que tenho a vontade, lá isso tenho. Factualmente. Que se desculparia em parte a reportagem se ela fosse feita por um inexperiente jornalista, não consigo fazer neste caso.

By me 

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