quarta-feira, 21 de junho de 2017

Solidariedades



Faz todo o sentido acontecerem as ondas de solidariedade em momentos de catástrofe.
Cada um contribui com o que pode, do que sobra ou não, para ajudar aqueles que precisam em momentos de aperto.
É a sensação de contribuir para quem sofre, é o fazer o luto através de actos, mesmo que por pessoas desconhecidas, é o saber-se ser-se útil quando necessário e não apenas ser mais um.
Mas o que faz sentido é isto não estar à discrição de cada um, uns contribuindo outros não. Este esforço da sociedade não deve depender das vontades individuais – das boas vontades – ficando o futuro dependente nem se sabe de quê.
Não faz sentido que os que sobreviveram tenham que estar aflitos porque não sabem como pagar funerais. Não faz sentido que os que tudo perderam não saibam onde vão passar a noite de natal. Não faz sentido que os que perderam o sustento numa catástrofe fiquem em risco de não terem sustento a médio prazo, que as solidariedades funcionam a curto prazo.
Faz sentido, antes sim, que o colectivo a que chamamos país intervenha num todo, usando os recursos que recebe de todos através dos impostos e contribuições.
Faz sentido que as casas ardidas sejam reconstruídas ou substituídas, que as fontes de rendimento queimadas tenham alternativas estáveis e duradoiras, que o futuro de quem isto viveu não seja tão negro quanto a fuligem que os cobriu.
Aos os que dizem que os orçamentos não dão para mais, que ainda estamos em crise, que temos as instituições à perna para cumprirmos compromissos económicos, pergunto eu quantas casas agora ardidas seriam recuperadas com o gasto em frotas automóveis? Quantos hectares poderiam ser replantados e colmeias repostas, com o custo dos submarinos? Quantos conjuntos de roupa de vestir, cama e mesa poderiam ser entregues com o não fazer faustosas celebrações disto e daquilo?
O luto nacional tem inegáveis vantagens para que os cidadãos possam ultrapassar a dor nacional.
Mas, em passando os dias de bandeira a meia haste, tudo volta ao normal.
Excepto para os que, daqui por uns anos, ainda terão a vida destroçada e pobre porque tudo ardeu e a solidariedade se esgotou.

A individual e a colectiva.

By me

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