Faz todo o sentido
acontecerem as ondas de solidariedade em momentos de catástrofe.
Cada um contribui
com o que pode, do que sobra ou não, para ajudar aqueles que precisam em
momentos de aperto.
É a sensação de
contribuir para quem sofre, é o fazer o luto através de actos, mesmo que por
pessoas desconhecidas, é o saber-se ser-se útil quando necessário e não apenas ser
mais um.
Mas o que faz
sentido é isto não estar à discrição de cada um, uns contribuindo outros não.
Este esforço da sociedade não deve depender das vontades individuais – das boas
vontades – ficando o futuro dependente nem se sabe de quê.
Não faz sentido
que os que sobreviveram tenham que estar aflitos porque não sabem como pagar
funerais. Não faz sentido que os que tudo perderam não saibam onde vão passar a
noite de natal. Não faz sentido que os que perderam o sustento numa catástrofe
fiquem em risco de não terem sustento a médio prazo, que as solidariedades
funcionam a curto prazo.
Faz sentido, antes
sim, que o colectivo a que chamamos país intervenha num todo, usando os
recursos que recebe de todos através dos impostos e contribuições.
Faz sentido que as
casas ardidas sejam reconstruídas ou substituídas, que as fontes de rendimento
queimadas tenham alternativas estáveis e duradoiras, que o futuro de quem isto
viveu não seja tão negro quanto a fuligem que os cobriu.
Aos os que dizem
que os orçamentos não dão para mais, que ainda estamos em crise, que temos as
instituições à perna para cumprirmos compromissos económicos, pergunto eu
quantas casas agora ardidas seriam recuperadas com o gasto em frotas automóveis?
Quantos hectares poderiam ser replantados e colmeias repostas, com o custo dos
submarinos? Quantos conjuntos de roupa de vestir, cama e mesa poderiam ser
entregues com o não fazer faustosas celebrações disto e daquilo?
O luto nacional
tem inegáveis vantagens para que os cidadãos possam ultrapassar a dor nacional.
Mas, em passando
os dias de bandeira a meia haste, tudo volta ao normal.
Excepto para os
que, daqui por uns anos, ainda terão a vida destroçada e pobre porque tudo
ardeu e a solidariedade se esgotou.
A individual e a
colectiva.
By me
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