terça-feira, 6 de junho de 2017

Retratos



Apesar de há muito estar relacionado com a fotografia, a minha experiência é limitada.
Há campos do fazer da imagem que não experimentei, ou porque não me interessam ou porque a minha passagem por eles foi tão fugaz que nem se pode chamar experiência.
Mas, daquilo que conheço, sei que o retrato é o género de fotografia mais complicado e exigente.
Esta exigência não passa, forçosamente, pelas questões de luz ou composição. Ou passa, mas é acessório.
Aquilo que complica, e muito, o retrato é o agradar ao retratado.
Nem sempre, ou as mais das vezes, a visão que o fotógrafo tem do fotografado não corresponde à visão que este tem de si mesmo. E isto é motivo de divergência de opiniões.
Ele é uma ruga, um olhar, uma posição de ombros, o evidenciar desta ou daquela característica que, sendo apelativa para quem fotografa, é negativa para quem é fotografado.
Mais ainda, a leitura subjectiva da imagem pode conduzir a interpretações sobre a personalidade do representado que, sendo o ponto de vista de quem retrata, não corresponde à imagem que o retratado tem de si mesmo.
Tenho sentido isso ao longo dos tempos, quer no projecto “Old fashion”, onde a relação entre fotógrafo e fotografado era tão curta quanto meia hora, no máximo, como fotografando gente conhecida, com fotografias de ocasião ou trabalhadas com tempo.
Sobra, para o fotógrafo, duas atitudes distintas:
Procurar na personalidade do fotografado aquilo que lhe agrada e tentar captar isso, mesmo que não corresponda à nossa “visão” ou sensibilidade;
Ignorar isso e fazer o retrato de acordo com o que sentimos e vemos, e confrontar o retratado com um “esta é a minha visão!”
A primeira alternativa é, naturalmente, imprescindível a quem faça da actividade um negócio. Mais artístico ou mais comercial. Se o retratado não gostar ou não se sentir confortável não regressa nem recomenda quem o fez. Mau para o negócio.
A segunda alternativa fica, assim, reservada para quem não depende da fotografia para comer, fazendo da actividade um alimento de alma. A sua satisfação enquanto criativo materializada no que quer e consegue fazer. Isto conduz, naturalmente, a ter apenas para fotografar modelos ou profissionais, a quem o retrato pouco importa enquanto imagem de si mesmo ou familiares ou conhecidos que “dão desconto” aos caprichos do fotógrafo.
Sobra, no meio de tudo isto, os fotógrafos muito bons ou génios, que conseguem conjugar a sua criatividade com a imagem que os fotografados têm de si mesmo.
Mas os génios são raros. E os muito bons fazem-se pagar muito bem e são muito selectivos sobre quem fotografam.

Eu não sou nem um nem outro.

By me

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