Apesar de há muito
estar relacionado com a fotografia, a minha experiência é limitada.
Há campos do fazer
da imagem que não experimentei, ou porque não me interessam ou porque a minha
passagem por eles foi tão fugaz que nem se pode chamar experiência.
Mas, daquilo que
conheço, sei que o retrato é o género de fotografia mais complicado e exigente.
Esta exigência não
passa, forçosamente, pelas questões de luz ou composição. Ou passa, mas é
acessório.
Aquilo que
complica, e muito, o retrato é o agradar ao retratado.
Nem sempre, ou as
mais das vezes, a visão que o fotógrafo tem do fotografado não corresponde à
visão que este tem de si mesmo. E isto é motivo de divergência de opiniões.
Ele é uma ruga, um
olhar, uma posição de ombros, o evidenciar desta ou daquela característica que,
sendo apelativa para quem fotografa, é negativa para quem é fotografado.
Mais ainda, a
leitura subjectiva da imagem pode conduzir a interpretações sobre a
personalidade do representado que, sendo o ponto de vista de quem retrata, não
corresponde à imagem que o retratado tem de si mesmo.
Tenho sentido isso
ao longo dos tempos, quer no projecto “Old fashion”, onde a relação entre
fotógrafo e fotografado era tão curta quanto meia hora, no máximo, como
fotografando gente conhecida, com fotografias de ocasião ou trabalhadas com
tempo.
Sobra, para o
fotógrafo, duas atitudes distintas:
Procurar na
personalidade do fotografado aquilo que lhe agrada e tentar captar isso, mesmo
que não corresponda à nossa “visão” ou sensibilidade;
Ignorar isso e
fazer o retrato de acordo com o que sentimos e vemos, e confrontar o retratado
com um “esta é a minha visão!”
A primeira
alternativa é, naturalmente, imprescindível a quem faça da actividade um
negócio. Mais artístico ou mais comercial. Se o retratado não gostar ou não se
sentir confortável não regressa nem recomenda quem o fez. Mau para o negócio.
A segunda
alternativa fica, assim, reservada para quem não depende da fotografia para
comer, fazendo da actividade um alimento de alma. A sua satisfação enquanto
criativo materializada no que quer e consegue fazer. Isto conduz, naturalmente,
a ter apenas para fotografar modelos ou profissionais, a quem o retrato pouco
importa enquanto imagem de si mesmo ou familiares ou conhecidos que “dão
desconto” aos caprichos do fotógrafo.
Sobra, no meio de
tudo isto, os fotógrafos muito bons ou génios, que conseguem conjugar a sua
criatividade com a imagem que os fotografados têm de si mesmo.
Mas os génios são
raros. E os muito bons fazem-se pagar muito bem e são muito selectivos sobre
quem fotografam.
Eu não sou nem um
nem outro.
By me
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