Há
normas, regras, técnicas, que temos por certas. Perfeitas.
Sabemo-lo
dos livros, sabemo-lo dos trabalhos que vemos. Sabemo-lo dos trabalhos que
fazemos.
E
quando nos confrontamos com o seu quebrar ou distorcer, arrepiamo-nos. Porque
sai das regras, porque nos incomoda na nossa procura do equilíbrio, do
perfeito.
Uma
dessas regras, e falando de cinema ou vídeo, é o racord.
Para
quem não sabe, racord pode ser definido como continuidade, como coerência na
sucessão do que é mostrado.
Pode
ser na lógica da história, pode ser na lógica das imagens.
Um
exemplo clássico será o vermos alguém com um objecto na mão direita e, na
imagem seguinte, tê-lo na mão esquerda. Sem que nada se quebre na sucessão do
tempo nem nos ter sido mostrado a mudança. E quem diz um objecto na mão, diz a
direcção do caminhar ou olhar, uma peça de roupa, um penteado, a origem da luz…
A
falha de racord é algo que os profissionais evitam, como o diabo a cruz.
Claro
está que não há regras que não possam ser quebradas ou distorcidas. Sabendo-o e
fazendo-o de propósito. Com o propósito explícito de provocar algum tipo de reacção
ou emoção em quem o vê. Os mestres, os grandes mestres, usam-no. Para alterar
ou condicionar a atitude passiva do espectador. Ou mostrar subtis alterações nas
personagens.
Apercebermo-nos
disso é um deleite.
O
problema põe-se que esta quebra de regras não é segredo. Apenas implica mestria
no seu uso, ou o resultado estará apenas um degrau assim de porcaria total.
Os
não-mestres tentam imitá-los. As mais das vezes sem sucesso. No cinema, na
televisão, nos vídeos on-line, na informação.
Afirmam
que é uma técnica superior, que é admissível, que faz parte da nova linguagem
do audiovisual.
Infelizmente,
estes argumentos apenas servem para encobrir ou disfarçar a sua incapacidade de
lidar com o racord e a sua falha. E dizem ser “arte” aquilo que é, na verdade,
incompetência.
Ver
um raro momento de arte é um prazer.
Ver
tanta incompetência disfarçada é um tormento.
By me
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