Uma ocasião, há
talvez uma trintena de anos, cheguei tarde a casa. Bem tarde. Aquele tarde que
mais nos faz pensar em madrugada que em noite.
Deixando o chapéu e
casaco no cabide à entrada, dirigi-me para o quarto sem sequer acender as
luzes. Eu precisava mesmo era de dormir. E com urgência.
No caminho, e
alumiado apenas pela mui pálida luminosidade da rua que escorria pelas janelas,
apercebi-me de algo estranho na parede do corredor. Não soube o que era, mas não
deveria estar nada ali.
Tirei a farpela e
votei ao corredor, agora de luzes acesas. Na parede, tranquila da vida, uma
osga. Grande, com palmo bem medido de comprido.
Para além da
surpresa óbvia de ali ter um hóspede insuspeito, não me agradou a ideia de a
ter ali por casa. Apesar de bem as bem saber inofensivas, convenhamos que não é
aquilo que nos apetece saber a passear em casa.
E foi aqui que se
levantou o segundo problema: como “convidá-la” a sair perturbando-a o menos
possível e, garantidamente, sem a maltratar?
Acabei por encontrar
uma solução de recurso: recorri a uma daquelas caixas de plástico para guardar
alimentos e, com uma folha de cartolina, fi-la sair da parede para a caixa, que
tapei com a cartolina.
Voltei a vestir-me
e vim à rua, sete pisos abaixo, para a largar no baldio do outro lado.
Espero que tenha
sido tão feliz quanto lho desejei na altura.
Quanto a mim,
voltei para casa e deitei-me. Para além do muito sono que tinha, adormeci com a
tremenda satisfação de saber que o mundo estava um niquinho de nada melhor.
E, já agora: Não
estavam à espera que tivesse fotografado a “visita”, pois não?
By me
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