terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Visita



Uma ocasião, há talvez uma trintena de anos, cheguei tarde a casa. Bem tarde. Aquele tarde que mais nos faz pensar em madrugada que em noite.
Deixando o chapéu e casaco no cabide à entrada, dirigi-me para o quarto sem sequer acender as luzes. Eu precisava mesmo era de dormir. E com urgência.
No caminho, e alumiado apenas pela mui pálida luminosidade da rua que escorria pelas janelas, apercebi-me de algo estranho na parede do corredor. Não soube o que era, mas não deveria estar nada ali.
Tirei a farpela e votei ao corredor, agora de luzes acesas. Na parede, tranquila da vida, uma osga. Grande, com palmo bem medido de comprido.
Para além da surpresa óbvia de ali ter um hóspede insuspeito, não me agradou a ideia de a ter ali por casa. Apesar de bem as bem saber inofensivas, convenhamos que não é aquilo que nos apetece saber a passear em casa.
E foi aqui que se levantou o segundo problema: como “convidá-la” a sair perturbando-a o menos possível e, garantidamente, sem a maltratar?
Acabei por encontrar uma solução de recurso: recorri a uma daquelas caixas de plástico para guardar alimentos e, com uma folha de cartolina, fi-la sair da parede para a caixa, que tapei com a cartolina.
Voltei a vestir-me e vim à rua, sete pisos abaixo, para a largar no baldio do outro lado.
Espero que tenha sido tão feliz quanto lho desejei na altura.
Quanto a mim, voltei para casa e deitei-me. Para além do muito sono que tinha, adormeci com a tremenda satisfação de saber que o mundo estava um niquinho de nada melhor.


E, já agora: Não estavam à espera que tivesse fotografado a “visita”, pois não?

By me

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