Recordo ter lido,
há uma catrefada de anos, um livro de banda desenhada com uma estórinha bem
interessante.
O universo era o
Disney, a ambiência era “A Patada”, um jornal dirigido pelo Patinhas e tendo
como jornalistas/repórteres o Peninha e o Donald.
No caso em causa,
foram estes encarregues de fazer uma reportagem sobre a interacção entre as
pessoas. Só que o Donald dizia que as pessoas não interagem e o Peninha
afirmava que sim.
Para demonstrar
que sim e que as pessoas falam mesmo com desconhecidos, chegou a uma paragem de
autocarro e colocou-se no primeiro lugar, dizendo para os restantes: “Desculpem,
mas estou com pressa.”
Logo os presentes
começaram a protestar, a insultar, a conversar entre si, contando episódios
equivalentes e o que havia sucedido…
Já de parte, o
Peninha comentou para o Donald: “Vês?!”
Nunca me esqueci
desta estórinha e desta análise de comportamento. E, quando tenho oportunidade,
gosto de a por à prova. E ontem foi um desses dias.
Mandei imprimir
diversas cópias da fotografiazinha que ali vedes e colei-a nas asas de sacos de
papel que comprei para o efeito. Assim.
Dentro de cada
saco coloquei uma pequena embalagem de umas queijadas de amêndoa, compradas no
supermercado. Não tem nenhum significado o facto de serem queijadas ou de amêndoa.
Apenas que foram baratinhas.
No verso de cada
fotografia escrevi: “Boas festas e feliz Solstício”.
Feitos oito
conjuntos, pendurei um em cada porta de apartamento no andar em que vivo,
incluindo a minha. Fiz a coisa pela uma da manhã, no maior silêncio para que não
dessem por mim, nem mesmo o cão de um vizinho.
Quando hoje saí de
casa, perto do meio-dia, já só restava o da minha porta. Indicação que foram
vistos pelos locatários ao saírem de casa e não meramente palmados.
Esperava eu que,
em havendo algum tipo de reacção pública a tal insólito, acontecesse no
regresso de toda essa gente, à tardinha ou noite. E que algum vestígio sobrasse
pela meia-noite e muito, a minha hora de regresso.
Coisa nenhuma.
Nada. Zero. Vazio total.
Tiro por conclusão
que só na banda desenhada o Peninha acerta e que os cidadãos cada vez menos
interagem, mesmo quando provocados anonimamente.
Nem quando confrontadas
com uma figura mitológica ou com o Solstício, que 95% das pessoas não sabe o
que é.
By me
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