sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Ser (ou não) um número



Há uns tempos, já não sei exactamente quanto, numa casa de fast-food do meu bairro assisti a uma situação que me fez doer a alma:
Uma moça, talvez com vinte anos ou pouco mais, mas com o cargo de chefe de turno, teve uma atitude de despotismo e arrogância para com outra funcionária. O que lhe disse não foi errado ou inapropriado, mas o tom e a postura fizeram abanar a subalterna. E a mim, que estava sentado a almoçar.
E o almoço não me cairia bem se nada fizesse.
Acabei-o e chamei-a, convidando-a a sentar-se na minha frente. A proposta foi tão inaudita que aceitou. E ouviu! Caramba, se ouviu, ainda que em tom baixo.
Puxando dos galões que a alvura da minha barba podem atribuir, expliquei-lhe o mal que tinha feito, o como tinha deixado a outra funcionária a tremer por coisa nenhuma, a diferença entre chefiar e liderar, o que eventualmente aconteceria se o discurso dela fosse para comigo…
Ouviu-me calada, abrindo cada vez mais os olhos a cada novo argumento.
No final pediu-me desculpa, agradeceu-me e acrescentou que nunca tinha visto a questão de nenhuma daquelas formas.
O tempo passou e de cada vez que eu lá ia e ela estava por lá, desfazia-se em sorrisos, fazendo questão de vir ter comigo para me cumprimentar.
E deixei de a ver, o que é normal neste negócio.
Voltei a encontrá-la há dias. Num outro restaurante.
A sua cara não me era estranha, mas não a reconheci de imediato. O mesmo não aconteceu do seu lado. Que assim que a sua zona de trabalho lhe deu uma folga fez questão de vir à minha mesa cumprimentar-me e esclarecer as minhas dúvidas.
Quando à saída trocámos mais umas palavras, disse-me ela à boca pequena:
“O sr. tinha tanta razão naquilo que me disse. Agora, aqui, consigo avaliá-lo. Trabalha-se bem, o pagamento não é mau, mas o tratamento… Agora percebo bem o que me disse!”

Odeio ter razão!

Mas gosto que as minhas “broncas” sirvam para alguma coisa.

By me

Sem comentários: