Estava no comboio,
algures entre o ponto A e o ponto B, que é como quem diz, entre casa e
trabalho.
Numa estação
intermédia entra alguém que se distinguia pela diferença: vinha numa cadeira de
rodas.
Convenhamos que não
é habitual ver alguém numa cadeira de rodas num comboio. Não porque não haja
quem necessite mas antes porque os comboios suburbanos não são “amigos” das
pessoas com necessidades especiais.
Mas menos habitual
é que quem vem numa cadeira de rodas chame por nós. Foi o caso: “Olá JC!”
Fiquei com cara de
parvo! Quem assim me tratava era uma ex-aluna. Recordo-me de praticamente todos
os que passaram pelas salas onde trabalhei, mas desta em particular. E nunca a
imaginaria numa situação destas.
Depois das saudações
efusivas, apresentou-me à sua mãe, que a acompanhava, e contou-me o que se
passava: uma doença de ossos, galopante, em pouco tempo a tinha colocado assim.
E, pelo que ambas me contaram, as perspectivas não eram as melhores.
Conversámos mais
um nico, sobre generalidades e passado em comum, até chegarmos à estação de
destino, por acaso coincidente.
Quando nos
despedimos, fez ela algo que não esqueci até hoje:
Com dificuldade
retirou uma das luvas que tinha calçada e fez questão de me estender a mão.
Para além do fraternal beijo que havíamos trocado.
Percebi rapidamente
o porquê: “desnudava-se” assim perante mim, mostrando-me aquilo que escondia de
todos os outros, a mão deformada pela doença. Que fazia adivinhar todo o resto
e o que isso implicaria.
Este gesto de
tamanha confiança foi algo muito para além da cumplicidade que poderíamos ter
criado enquanto aluna/professor. Espero que a minha expressão então não tenha
denunciado o que aquele “adeus, talvez para sempre” significou e calou fundo em
mim. E ainda hoje sinto.
Quando hoje vejo
jovens com luvas, com ou sem bonecada, lembro-me sempre desta minha amiga, que
outro nome não poderei usar. Mesmo que passados uns 15 anos e dela nunca mais
ter sabido.
Onde quer que
estejas, espero que estejas bem!
Nenhuma imagem concreta
seria suficiente explícita para esta crónica.
By me
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