segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Amanhã



Em tudo quanto é lado se fala do encerramento de um teatro, em Lisboa.
É bom que se fale, que quando a cultura fecha, fecha um pouco de nós, do que somos e do que somos capazes de fazer enquanto sociedade.
E só quem esteve ligado ao teatro sabe o quão dramático é haver mais gente nas tábuas e nos bastidores que sentado na plateia. E, apesar disso, continuar a representar com o mesmo empenho e força interior como se não existissem contas para pagar. Na companhia e em casa de cada um.
A comunicação social fala do caso, o presidente da Republica pronunciou-se e a questão está nas bocas do mundo português. E é bom que esteja.

Já não é bom que tenha caído no olvido um negócio municipal de há dois anos.
Falo da venda do mais moderno quartel de bombeiros da cidade que alojava, e para além de homens e material de socorro, a central de comando da protecção civil de Lisboa e o museu dos Bombeiros.
Sobre a central de comando não sei o que lhe aconteceu. Apenas posso presumir que tenha sido colocada num outro local. E esperar que mantenha a operacionalidade que todos queremos.
Sobre homens e equipamento, foram deslocados para o antigo quartel de Benfica, onde já tinham estado, e onde o espaço para viaturas de socorro e respectiva tripulação é menos que suficiente para a área que está a seu cargo. Tal como as condições do edifício, que foi objecto de embelezamento exterior, estão bem abaixo do sofrível. Já estava quando foi desafectado do serviço de socorro.
O museu… Bem, do museu nada sei. Dificilmente irão encontrar meios para novo espaço expositivo permanente, que possa preservar a história e contá-la aos vindouros. Que é para isso que serve um museu.
Mas o museu dos Bombeiros fechou e disso não se fala. Que a cultura e a preservação da memória, se não tiver mediatismo político, bem pode ir morrendo aos poucos.
Que é bem mais importante a expansão de um hospital privado (que foi o que levou a que encerrasse o museu) que a manutenção da cultura ou de meios de socorro públicos.

E se não cuidarmos do que somos ou fomos, o amanhã não passará disto: uma placa inútil e abandonada de um teatro ou cinema, que eventualmente se terá salvo de um hipotético incêndio cultural a que os bombeiros não conseguiram acudir a tempo.

By me 

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