sábado, 17 de dezembro de 2016

Almanach



Por vezes faço isto: escolho um livro ao calhas, abro-o ao calhas e presto atenção ao que ali encontro. Foi o que fiz há pouco.
Fiz pontaria a uma prateleira menos frequentada, fechei os olhos e joguei a mão, agarrando o que senti. Saiu-me na rifa um “Almanach de lembranças 1882” que já nem recordava de aqui ter.
Comprado, se a memória me não falha, ali para os lados de Campo de Ourique, não tenho indicação de valores, mas muito barato terá sido que não sou alfarrabista nem coleccionador. A única referência que tenho é um bilhete de metro datado de 2002.
As páginas que abri são estas que aqui vedes, as 198 e 199, para quem não souber numeração romana.
O que é de facto interessante é uma delas conter algo que procuro há muito. Ou, pelo menos parte do que procuro:
A tabela de toques de sino que existia em Lisboa (e noutras cidades) para chamar a incêndio. Consoante o número de badaladas, assim se sabia onde era e onde acorrer em socorro.
Sobre esta tabela havia uma lenga-lenga que se sabia de cor (o analfabetismo grassava), aprendida com os mais velhos ou nas brincadeiras infantis. E, apesar de ser algo que remonta a meados do séc. XIX, soube eu dela numa livro de lenga-lengas da minha própria infância.
O livro foi-se com o tempo, os versos varreram-se-me da memória, mas não o saber da sua existência. Mas sei que ainda existe registo disso no agora extinto museu dos bombeiros de Lisboa, que o município fez o favor de extinguir para que um hospital privado se pudesse expandir.
E venho a encontrar parte do que procuro há anos aqui arrumadinho, quase escondido numa estante em casa.

Acho que o pai natal passou por aqui mais cedo este ano.

By me

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