quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Do uso da ferramenta



Se pararmos para pensar um pouco naquilo que vamos observando em redor, talvez cheguemos à conclusão que uma boa parte das fotografias que hoje são feitas, talvez metade, resultam do uso de equipamentos que só complementarmente são câmaras fotográficas: os telemóveis e os smartfones.
Isto nada tem de errado. Mais que a ferramenta, importa sempre o resultado. E se estes equipamentos satisfazem os seus utilizadores, então são a ferramenta certa.
Ou não!
O desenho ou ergonomia destes aparelhos, tentando satisfazer a multiplicidade de usos que lhes estão inerentes, condiciona a forma como são usados. No caso concreto, na vertical e não na horizontal.
E seria inconsequente o uso vertical ou horizontal destes dispositivos se resultassem de uma opção do seu utilizador: escolher uma ou outra posição em função do assunto ou estética pretendida. Não é o caso!
A esmagadora maioria dos utilizadores fotografa na vertical porque os botões assim o sugerem.
Mais ainda: Uma boa parte das fotografias feitas com telemóvel são feitas na vertical porque fotografam pessoas. E os corpos humanos são verticais. E quer-se eliminar tudo o mais da imagem que não o fotografado. E, porque pouco se sabe (na maioria dos casos) de perspectiva ou linhas de fuga ou ângulos de visão, a fotografia é feita ao nível do olhar, resultando num corpo humano que enche o enquadramento, cabeçudo e pouco mostrando do ambiente circundante.
E nesta dicotomia entre o horizontal e o vertical, natural ou imposto pela tecnologia, deveríamos considerar o como nos relacionamos com o mundo que queremos representar: na horizontal.
Os nossos olhos estão ao lado um do outro e não um acima do outro; quase nenhuma atenção prestamos ao que está acima de nós, excepto se chove ou se há pássaros; a nossa preocupação com o que está abaixo de nós é apenas para sabermos se há buraco ou dejecto. Mas preocupamo-nos com o que está em frente e ao lado. As mais das vezes ao nosso nível.
E se dúvidas houvesse a este respeito, repare-se como os especialistas em condicionar o comportamento humano – os publicitários – dispõem os artigos nos expositores das lojas: aqueles que querem que tenham mais impacto junto dos consumidores – nós, os incautos – estão ao nível dos nossos olhos e não lá em cima ou lá em baixo, para onde raramente olhamos.
Ao fotografarmos e queremos mostrar o mundo em que vivemos e as nossas emoções nele, será útil fazermos aproximar a fotografia disso mesmo.
Não há nenhuma imposição estética ou semiótica para a verticalidade ou horizontalidade. Devemos usar uma ou outra na exacta medida em que uma ou outra se adapte ao que sentimos ou queremos mostrar. Ou que melhor se adapte ao suporte final, ecrã ou papel.
Agora ficarmos mentalmente limitados a uma posição porque a ferramenta assim nos sugere (ou impõe), é deixarmos que sejam os fabricantes de equipamentos a gerir as nossas emoções e formas de expressão.

E a fotografia é uma forma de sentir e exprimir emoções!

By me

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