Volta e meia
acontece: encherem-se os jornais (e as redes sociais) da celebração da morte.
Não no dia para
tal definido por religiões e hábitos seculares, mas porque morreu este ou
aquele, ilustres nas artes, nas letras, nas ciências…
E todos têm uma
palavra de apreço, um elogio para com o defunto, um episódio comum para relatar
e, de algum modo, transferir para quem conta o mérito de quem parte.
Confesso que não
tenho jeito para elogios fúnebres. Para mais quando se trata de gente célebre,
com quem tantos e tão ilustres privaram, leram, ouviram ou conversaram.
Confesso que
prefiro celebrar os vivos, aqueles que tenho o prazer e privilégio de conhecer.
E alguns que me fazem o especial favor de me conhecer pelo nome, mesmo que
passados anos.
Hoje foi um desses
momentos: de celebrar a vida.
O tropeçar num ser
humano especial, para com quem o país tem uma dívida de todo o tamanho e que
ele faz questão de não a cobrar ou explicitar.
Um homem que
possuiu uma livraria e a quem eu chamava de “o meu livreiro”. Onde eu entrava e
dizia: “Oh sr. A.: ponha-me a ler!” E ele olhava para mim, perguntava-me pelos
dois últimos que tinha lido, e escolhia um das prateleiras. Nunca se enganou,
caramba.
Encontramo-nos
agora, quando calha. Que a livraria (e tertúlia) cá da freguesia fechou há uns
anos, deixando-nos a todos bem mais pobres. E é uma festa, celebrando o que foi
e fomos, o que é e somos, o que seremos e nos propomos ser e fazer. Que a idade
e as maleitas ainda não nos apagaram o sonho de ser e fazer. Nem hoje nem os dos
últimos 42 anos.
É sempre simpático
celebrarmos os mortos. Uma espécie de exorcismo do que nos espera
inexoravelmente.
Mas é muito mais
agradável celebrarmos o presente, os vivos e o futuro que faremos!
A imagem? Uma
celebração de vida, naturalmente.
(2007, Pentax
K100D, 400mm, ISO 800, f/13, 1/750, jpeg)
By me
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