A
história é antiga. Um bocado antiga.
Quando
comecei a trabalhar abri conta num banco para receber o salário. Era mais
expedito e eu, chavalito que era, senti-me importante por ter conta num banco.
Acontece
que essa conta rapidamente chegava a zero, que o salário era curto, o mundo era
grande e eu era puto. (Hoje acontece-me o mesmo, pese embora ser bastante mais
velho).
A
certa altura aborreceu-me para além dos limites o ser menos bem tratado nesse
banco. Eu e outros, que se não tínhamos conta choruda ficávamos um bom pedaço à
espera para sermos atendidos. À época não havia net e a rapidez com que os
cheques eram confirmados telefonicamente era directamente proporcional ao
montante em depósito.
E
mudei de banco.
A
escolha de qual banco recaiu sobre um então recém aberto, cheio de novidades e
modernidades. E eu fui na conversa durante uns tempos.
Até
que os rumores passaram a declarações públicas e demonstração de factos: esse
banco não contratava mulheres para os seus balcões porque tinham um índice de
absentismo elevado.
Incomodou-me.
Chateou-me. Deixou-me possesso.
E
um dia entrei no balcão onde tinha conta e pedi para acabar com ela. Qual o
procedimento para cancelar todo o nosso relacionamento.
Foi-me
dito que bastaria retirar o dinheiro que lá tivesse e preencher um impresso com
essa vontade. E, se possível, escrever o motivo de tal decisão.
Claro
que não tive vergonha em o fazer. Custou-me foi ver a cara do funcionário
quando leu o que escrevi. Educado, quase formal, mas contundente quanto
bastasse, explicava eu que não dava dinheiro a ganhar a quem fazia segregação laboral
baseado no género.
Tenho
mantido essa atitude ao longo da vida: recusar manter contactos para além dos
impossíveis de evitar com aqueles que de algum modo me ofendem nos meus princípios
mais básicos. Instituições ou pessoas.
E
a cada dia que passa estou menos tolerante e mais selectivo. Mas não menos
incisivo!
.
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