quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Sobre um livro



Estou em crer que já aqui falei dele.
Trata-se de um livro que me foi emprestado quando quis começar mais a sério na fotografia. Na altura, devorei-o como a um bolo e, garanto, soube-me a pouco, que queria eu mais daquilo.
O dono do livro nunca mo quis vender, oferecer, “emprestadar”-mo, deixar-me roubá-lo, sempre quis – e bem – ficar com ele. O tempo passou, este meu mestre morreu e perdi o rasto ao livro.
Há algum tempo, de conversa com uma livreira (que de muito gostar de livros, acabou por falir e fechar portas, para grande pena de todos os seus clientes e amigos) falei-lhe nele e ela disse que o iria procurar. Trata-se de um livro editado em 1973, nos EUA, e nunca reeditado. O seu nome? “Photographic Seeing”, escrito por Andreas Feininger.
Uns meses depois da conversa, recebo um E-Mail, informando-me que o livro existia em segunda mão, que custava 30€, se eu estava ainda interessado e se podia mandá-lo vir dos EUA. Claro que estava e só faltou mesmo sair de casa a correr para ir beijar a livreira.
Em o recebendo, li-o de fio a pavio, de novo, e fiquei com uma sensação esquisita:
Ou bem que quando o li, há mais de 30 anos, me influenciou de tal forma que ainda hoje penso como ele, ou bem que, com o correr dos tempos, fui afinando a minha própria forma de ver e pensar a fotografia e gostaria de eu mesmo o ter escrito. Isto, apesar das diferenças óbvias das técnicas e das modas de imagem.
Mas coisas há que acabam por ser intemporais e este livro está recheado disso mesmo.

Aqui vos deixo o início de um dos capítulos. Atente-se na simplicidade da linguagem mas, ao mesmo tempo, na eficácia do que aqui é descrito.
Quanto à imagem, desculpem qualquer coisinha, mas é minha. Alguma coisa teria que usar.


“Photogenic and Unphotogenic Subject Qualities and Techniques
Nobody denies that the means and methods of modern photography permit a photographer to depict any subject in the form of a recognizable and even faithful rendition. However, as any critical photographer knows from his own experience, a "faithful" rendition is not necessarily the same as a good picture. Faithfulness in photography is a quality which, of course, is indispensable in scientific, documentary, educational, medical, judicial, catalog, etc., photography, but insufficient as far as the creative photographer is concerned because it neither includes nor guarantees such picture qualities as meaning, impact, eye-appeal, stimulation, or graphically exciting rendition - the qualities which make a photograph "good," perhaps even great.

In their striving for "good" photographs, perceptive photographers have noticed that certain kinds of subjects consistently make better pictures than others and that this peculiarity has virtually nothing to do with the eye-appeal of the subject. For example, a wide-open view from a famous vantage point-miles and miles of mountains and valleys, blue sky and drifting summer clouds, hot sunshine and cooling breeze may be a breathtaking and unforgettable experience, but as sure as anything will make a miserable picture. Why? Because the subject is too big to be squeezed successfully into the small confines of an average-sized picture (it possibly would have been all right in photomural size); because it contains too much detail which, in the unavoidable reduction, becomes so small as to be virtually invisible; because it does not contain a focal point or center of interest - a specific motif, a nucleus around which the rest of the picture can be organized in the form of a satisfactory composition; because its overall contrast is too low, resulting in a flat, monotonous impression; because it contains an overabundance of weak colors and not enough strong ones and therefore produces a wishy-washy effect; because it is totally devoid of scale and consequently appears no larger than the projection screen or the paper on which it is printed instead of evoking that overwhelming feeling of immensity which prompted the photographer to make the shot in the first place. That's why.”
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