Um dos “males” ou “problemas”
da fotografia digital é a rapidez e facilidade de produção de imagem e a
rapidez e facilidade de consumo.
Rapidamente se
fotografa e se observa no ecrã da câmara o resultado, repetindo quantas vezes
se quiser até se ter o que se quer e sem pensar em custos. E rapidamente se
processa num editor de imagem, usando o “undo” ou o “delete” com a mesma
facilidade com que se inspira ou expira.
Tal como rapidamente
se publicam as imagens, em suportes físicos ou virtuais, com a certeza que
agradarão a alguns “amigos”. E com a certeza que, no meio da confusão e profusão
de imagens que todos os “amigos” fazem e divulgam haverá apenas que fazer menos
mal, que os “defeitos” pouco se notarão.
Como estão
enganados estes “fotógrafos”.
Uma fotografia não
se faz num instante, no “momento decisivo” como disse o mestre Bresson.
Uma fotografia
leva tanto tempo a fazer quanto o tempo que temos de vida. Ela é o resultado daquilo
que somos, do somatório de todas as nossas experiências e observações da vida. E
o somatório de todas as fotografias que vimos e que fizemos, das sensações que
tivemos com cada uma delas, do gostarmos ou não do trabalho deste ou daquele
fotógrafo, amador ou profissional, tanto faz. Cada fotografia que fazemos é
tudo isso que passou somado com a oportunidade e o espírito de observação do
que nos cerca.
E uma fotografia é
tão boa quanto a sua capacidade de sobreviver à passagem do tempo escondida. O
vermos repetidamente a mesma imagem que fizemos, no ecrã da câmara ou no ecrã
do computador ou mesmo na parede, faz dela um referencial de qualidade e, ao
fim de algum tempo, tê-la-emos como boa ou aceitável.
Fazer um registo
fotográfico sem ver de imediato o seu resultado, guardar e observar apenas
passados alguns dias, passadas que foram as emoções que nos levaram a premir o
botão da câmara… isso sim, fará de uma fotografia algo que valha a pena ver e
mostrar se nesse momento dela gostarmos.
É o tempo o melhor
filtro daquilo que fazemos!
Uma boa forma de
aquilatarmos o que fazemos, mesmo sem a opinião de terceiros, é usar uma câmara
de película, vulgar e erradamente conhecidas como “analógicas”.
Colocar um rolo e
levar uma ou duas semanas a gasta-lo. Mandar processar duas ou três semanas
depois.
Se ao fim deste
tempo, quando observarmos essas fotografias pela primeira vez, ainda delas
obtivermos sensações, emoções, elas ainda “falarem connosco”, então elas terão
alguma qualidade perante os nossos próprios padrões.
Nos tempos que
correm, com a velocidade de produção e consumo de imagem, lamento dizer mas constatarão
que a maioria dessas imagens já pouco se alguma coisa vos dizem.
O que será
indicador da necessidade de pensar mais e com mais calma e profundidade de cada
vez que se premir o botão do obturador, não importa o suporte.
Imagem: da minha
varanda, Olympus IS 1000, Fujicolor 400
By me
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