Não, eu não tenho
em casa, fotografável, nem uma balança antiga nem cartuchos de papel pardo
riscado nem rebuçados vendidos a peso.
Por isso não posso
ilustrar a história.
Que conheço vai
quase para meio século, quando tudo isso existia. E que agora um post de uma
amiga me veio recordar.
Naquela mercearia
antiga, cuja idade do balcão rivalizava com a do dono, entrou uma menina.
Dirigiu-se ao
balcão e, em bicos dos pés pediu para o velhote:
“Eu queria dez
tostões de rebuçados de lima.”
Em seguida fechou a lata, subiu a escada, arrumou a lata, desceu
a escada, arrumou-a no canto certo, fechou o cartucho com uma guita e
entregou-o à menina que, sorridente, pagou os dez tostões respectivos.
Nesse momento
entra um petiz que, dirigindo-se ao balcão, tenta subir para ele e, quando o
queixo passa por cima, declara com solenidade:
“Eu queria dez
tostões de rebuçados de lima.”
O velhote olhou
para ele e, cheio da paciência típica dos velhotes, foi buscar a escada que
encostou no alto armário, subiu, pegou na lata respectiva, desceu, pôs um
cartucho na balança, abriu a lata e foi pondo rebuçados no papel pardo riscado
até atingirem o peso certo.
Em seguida fechou
a lata, subiu a escada, arrumou a lata, desceu a escada, arrumou-a no canto
certo, fechou o cartucho com uma guita e entregou-o ao petiz que, sorridente,
pagou os dez tostões respectivos.
Ainda este não
tinha cruzado a porta quando entra uma garotinha. Do meio da sala, que se se
chegasse ao balcão não conseguiria subi-lo, pede ao velhote:
“Eu queria dez
tostões de rebuçados de lima.”
O velhote sorriu e
foi buscar a escada que encostou no alto armário, subiu, pegou na lata
respectiva, desceu, pôs um cartucho na balança, abriu a lata e foi pondo
rebuçados no papel pardo riscado até atingirem o peso certo.
Em seguida fechou
a lata, subiu a escada, arrumou a lata, desceu a escada, arrumou-a no canto
certo, fechou o cartucho com uma guita e entregou-o à garotinha que,
sorridente, pagou os dez tostões respectivos.
Estava o bom do
merceeiro a guardar as moedinhas quando entra um garoto, de boina às três
pancadas e que, aos saltos junto ao velho balcão de madeira, pede:
“Olhe. Olhe. Eu
queria dez tostões de rebuçados de lima.”
O velhote suspirou
e foi buscar a escada que encostou no alto armário, subiu, pegou na lata
respectiva. Quando se preparava para descer entraram um rapazinho e uma menina,
iguais que nem gotas de água, vestidos do mesmo modo e que pararam no meio da
loja.
Lá do alto, o
velhote pergunta-lhes:
“E vocês? Também
querem dez tostões de rebuçados de lima?”
“Não!”,
responderam em coro os gémeos. “Nós não queremos dez tostões de rebuçados de
lima.”
Com um suspiro de
alívio, o velhote desceu, pôs um cartucho na balança, abriu a lata e foi pondo
rebuçados no papel pardo riscado até atingirem o peso certo.
Em seguida fechou
a lata, subiu a escada, arrumou a lata, desceu a escada, arrumou-a no canto
certo, fechou o cartucho com uma guita e entregou-o ao garoto que, sorridente,
pagou os dez tostões respectivos.
Perguntou então o
velhote para os dois, parados no meio da loja:
“Então que querem
vocês?”
“Nós queremos
quinze tostões de rebuçados de lima.”
By me
Sem comentários:
Enviar um comentário