O meu projecto “Oldfashion”
decorreu entre 2006 e 2009.
Com uma câmara
construída por mim, imitando vagamente as à-lá-minuta, fui estando no Jardim da
Estrela durante esse tempo e sempre que os meus horários de trabalho e as
condições atmosféricas permitiam.
Do ponto de vista
prático, fotografava quem me pedia para tal. Sem nunca propor o acto de
fotografar a ninguém. E as fotografias eram entregues gratuitamente.
Durante esses três
anos, muitas coisas quebraram a rotina daquele jardim: feiras, festas,
festivais, casamentos, rituais iniciáticos estudantis… aconteceu de tudo um
pouco com quase todo o tipo de gente.
Mas a maioria do
tempo o Jardim da Estrela foi um jardim pacato, onde se ía passear ou estar,
frequentar uma das esplanadas, andar de bicicleta ou de patins, levar as
crianças de colo a apanhar sol e aprender a andar, queimar o tempo entre aulas
e conviver, namorar, atalhar caminho… Um jardim igual a todos os outros, não
fora a enorme diversidade de gente que o frequentava.
Ainda hoje é
assim.
Durante esses três
anos fiz mais de um milhar de fotografias enquadradas nesse projecto e muitas
mais fora dele. Conversei com todos os fotografados (isso fazia parte do
projecto) e com muitos mais que apenas se abeiravam ou passavam. E vi muitas,
muitas mais pessoas e situações que em nada interagiram comigo ou com a minha câmara:
pessoas que passavam ou que apenas estavam, pessoas de todos os estratos
sociais, idades, origens…
Nas últimas três
semanas aconteceu algo de curioso: por três vezes e em locais diferentes
reconheci gente, ainda que sem saber de onde. Entabulando conversa, chegámos à
conclusão que essas três pessoas eram então frequentadoras do Jardim da
Estrela, ainda que nunca tivessem sido fotografadas por mim. Gente que,
estudando por perto, usava o jardim como ponto de encontro social ou trajecto
de ou para a escola ou universidade. É interessante ver como não se me apagaram
da memória, mesmo que fossem gente de passagem e sem contacto directo.
Pergunto-me
quantos mais retratos equivalentes terei no meu arquivo neural.
Na imagem – A minha
câmara, num dos dias de feira do Jardim.
By me
Sem comentários:
Enviar um comentário