quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

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Raramente são as palavras. Mas o tom… esse marca o ritmo, as intenções e, muito naturalmente, as respostas.
Já escuro e à porta do meu prédio, passam três tipos com pinta de irem para uma qualquer festa de fim-de-ano, apesar de nem sequer serem ainda horas de jantar.
Em olhando para mim, que levo o saco com o pão que amanhã não há, de longe afirma um bem alto:
“Éh pah! O Pai Natal este ano vem tarde e já mudou de farda!”
Foi o tom! Foi o tom que me levou a responder mesmo sem pensar:
“É verdade! Vesti a farda de enfrentar paspalhões! Um bom ano, se chegarem sóbrios à meia-noite!”


Ainda estou para saber se terão respondido.
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Votos



Pergunto-me se todos estes votos, tão abundante e displicentemente expressos por estes dias, fossem bem usados no próximo dia 24, se não teríamos de facto um ano bom. E os seguintes!

By me

Fazendo um brinde



E porque os brindes são o que são, aqui fica um apropriado à data que se aproxima, à velocidade de 60 minutos por hora.
Do lado esquerdo simples, claro, sem complicações e bonito.
Do lado direito sem enfeites, fotograficamente falando e com tudo o que um brinde, por vezes, implica de complexidade.


Mas, e acima de tudo, divirtam-se a aproveitem bem a luz!

By me

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

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Eu queria escrever aqui, para terminar o dia, algo de bonito, sincero, honesto, convincente.

Mas só me lembro de jornalistas e candidatos eleitorais, que querem?
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Não é bonito



E é bonito ter feito esta fotografia? Não! Nada bonito, mesmo.
No entanto, foi uma tentação a que não resisti.
Esta janela, despudoradamente descoberta, bem como outras duas da mesma casa, rasgadas ao alto como os tectos, mostravam o interior de duas salas de uma mesma casa. Casa velha, talvez com um século, abeirada de uma via estreita mas com algum movimento e à distância de uma pedrada de um jardim frondoso e acolhedor, onde no quiosque que a esta hora estava apinhado de gente nas mesas a ler ou conversar, o balcão exibia um isqueiro pendurado por um cordel. Disse-me o dono que a quantidade de gente que ali vai pedir lume é incrível, bem de acordo com o bom negócio que faz em o tempo estando bom.
Mas antes de lá chegar fiquei parado no meio do passeio, mascando a minha pastilha e olhando para as janelas. Primeiro com os olhos, depois com a objectiva.
Não estava eu preparado para fotografar sob a mais que fraca influência das parcas e escassas luminárias públicas desta rua. Acredito que quem aqui mora ou caminhe gostasse de ver melhor os eventuais buracos na já bem velha calçada por onde se caminha. Mas a rua não seria a mesma e, quiçá, não me teria atraído o contraste do exterior com o interior. Mesmo sem tripé, e recorrendo à minha corrente de autoclismo, tentei dar um ar da minha graça, levando bem longe a capacidade do sensor da câmara no seu distinguir entre luzes e sombras.
Desta minha intrusão na intimidade de um lar que me é desconhecido e que assim ficará para todos os que isto virem, peço desculpa.
Mas não resisti a sorrir ao olhar para uma janela, depois outra, uma terceira em dobrando a esquina. E em todas verificar o mesmo:
Sem grandes pompas e com um certo ar de modernidade, as paredes estavam cobertas de livros. Uns mais encadernados e clássicos, outros desirmanados e de tamanhos vários, numa das paredes a estante notoriamente desarrumada, indicando um uso frequente…
Nesta casa, onde mora não sei quem nem quantos, gosta-se de livros!  
E isso foi motivo para, num início de noite amena (ou mesmo que o não fosse) fazer um registo indiscreto.

Digamos que fotografia e livros resulta num casamento quase perfeito e bonito. Ao contrário desta imagem.

By me 

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

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"Já tem a nossa aplicação?", perguntam-me na loja de fast-food.
"Não.", respondo. "Mas prometo aplicar-me a comer isso tudo."
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Eu ainda sou do tempo em que as pessoas sentadas em redor de uma refeição conversavam de viva voz. 
Em que as gafes se ficavam por falar de boca cheia ou alguma exclamação por via de uma espinha na garganta. 
E se o telefone tocava, lá no corredor, havia sempre alguém que perguntava “Para quem será?”
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Eu ainda sou do tempo em que as pessoas sentadas em redor de uma refeição conversavam de viva voz.
Em que as gafes se ficavam por falar de boca cheia ou alguma exclamação por via de uma espinha na garganta.

E se o telefone tocava, lá no corredor, havia sempre alguém que perguntava “Para quem será?”
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Flores



Desculpem lá qualquer coisinha, mas ainda ninguém me convenceu do contrário!
Oferecer ou usar uma flor, por bonita, aromática ou simbólica que possa ser, será sempre o oferecer ou usar um cadáver, mesmo que um cadáver adiado como nós mesmos.
E se eu quiser representar um sentimento, por nobre ou altruísta que seja;
Se eu quiser homenagear a pessoa a quem ofereça, fazendo uma comparação de beleza exterior ou interior com a oferta;
Se quiser marcar um momento de afectos que desejo eternos…
Um cadáver não é, p’la certa, o melhor. Mesmo que adiado.


Flores? Nos vasos, nos jardins, nos campos!

By me

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As coisas que algumas pessoas fazem só para continuarem no centro das atenções!
Depois de não ter conseguido um lugar de ministro, vice ou quejando, anuncia uma demissão irrevogável.

E os jornalistas vão na conversa!
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Publicidades



Fico sempre sem saber lá muito bem como funcionam os sistemas automáticos de escolha conteúdos de publicidade das páginas web.
Pese embora não ter sido claro e explícito a falar no assunto, estou a ser “bombardeado” com anúncios referentes a deixar de fumar.
Ou alguém me denunciou ou eles são muito, mas muito inteligentes, a decifrar mensagens pouco claras!

Já agora: dois-zero, ganho eu!

By me

Horizontal



A questão da fotografia recorrendo ao enquadramento integral e fazer disso um estilo de imagem, é velha.
Não querendo entrar em polémicas, entendo que é pouco prático e que a maior parte das pessoas não o usam. E, em democracia, a maioria tem razão.
O problema levanta-se, desde logo, porque raros são os laboratórios que imprimem integralmente as imagens que lhes entregamos. A menos que sejamos assertivos naquilo que pedimos. E como os formatos de papel standard não são consentâneos com os formatos das câmaras, algo será “cortado”, na horizontal ou na vertical.
Em seguida, temos que a imagem original raramente é vista. Exceptua-se o diapositivo (ou slide). Todo o processo digital implica converter a imagem formada sobre o sensor em impulsos eléctricos, estes em códigos digitais, estes em impulsos eléctricos que, por sua vez, serão transpostos para o papel ou para um ecrã. Em tudo isto, há sempre intermediários, automáticos ou não, que alteram ou mesmo subvertem o resultado da passagem da luz através da objectiva.
Considerando tudo isto, o uso de editores de imagem que acrescentem, retirem, ajustem, melhorem aquilo que o fotógrafo quis fazer aquando da obturação é aceitável.
Diria mesmo que recomendável, quando não conseguimos nessa altura aquilo que queremos mostrar. Ou porque nos falhou qualquer detalhe técnico ou porque é essa alteração que irá fazer passar a mensagem ou sentimento que se quer.
É exactamente por isso, por ser possível e por ser recomendável, que me incomoda, me faz saltar a tampa, me faz mesmo evitar ver as imagens que têm o raio do horizonte torto. Muito principalmente quando esse horizonte é no mar.
Sabemos que a linha do horizonte não é uma recta mas antes uma curva, já que o planeta é quase esférico. Mas estar o mar a tombar para a esquerda ou para a direita… Não só denuncia que esse detalhe não foi considerado na tomada de vista como também não foi visto no tratamento posterior.
Claro que o mar pode estar torto propositadamente. Interpretação subjectiva sobre um qualquer assunto. Infelizmente, imagens dessas serão menos que 0,0001% de todas as fotografias que têm o mar torto.

E, para aqueles que lêem este meu desabafo meio cáustico, fica uma pergunta: aceitam ter em casa, ou numa exposição, um quadro pendurado ligeiramente torto? Ou está direito ou está assumidamente de lado.

Ver um quadro assim, na parede, dá vontade de o ir endireitar. Tal como dá vontade de endireitar o mar descaído de certas fotografias.

By me

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Partilhas



Várias vezes, no meu projecto fotográfico “À-Là-Minuta” tive discussões quase estúpidas:
Eu a querer entregar as fotografias que fazia de graça, de borla, a custo zero, sem pagamento; e os fotografados a insistirem que não, que queriam pagar, que nada na vida se faz sem dinheiro, que não há coisas grátis…
Claro que há coisas de borla!
As coisas boas da vida não têm preço!
Ouvir um pássaro a festejar a chegada do sol é de borla e delicioso!
Também não se paga por ver uma criança a correr atrás de um pombo, num jogo tão antigo e bonito quanto os pombos e as crianças!
Assim como a partilha! Não a dádiva, que é a troca de posse de algo entre pessoas. A partilha!
O fazer com que algo, material ou não, não tenha dono ou registo, que seja usado por quem dele necessita, sem que se escreva no livro do deve e haver. Partilha: aquilo que acontece com os fluidos nos vasos comunicantes. Partilha: o nivelar a existência pela satisfação de todos, sem preconceitos ou interesses escondidos. Partilha: o ter a satisfação de saber o outro satisfeito.
Também isto não se faz a troco de dinheiro ou do que quer que seja, mesmo que envolva dinheiro. Coisas, afectos, tempo!

Quando não, trata-se de dádiva, de esmola, de caridade, de negócio, de investimento material ou emocional. E isso, raios me partam, não faço!

By me

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Parece que passou a ser passível de pena de prisão o piropo de cariz sexual.
Tal como parece ser condenável à luz da lei os “piropos” dirigidos ao presidente da república e outras figuras do estado.

Felizmente ainda não há polícia do pensamento.
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O avião



O tipo de ofício que tenho proporciona estas situações, que os horários são demasiado malucos e instáveis:
Ontem um colega viu-se na contingência de ter que levar a filha para o trabalho.
Coitada da pequena, que frequenta o 4º ano, lá se ía entretendo como podia, sem atrapalhar o que ali se faz. E a dado passo, talvez que as minhas barbas tenham sido um incentivo, veio perguntar-me se haveria papel disponível para escrever ou desenhar.
Claro que havia e indiquei-lhe onde. E ficámos um nico de conversa na qual acabei por lhe contar a história do Joãozinho e do seu barco. Contá-la-ei aqui noutra ocasião.
Mas, na sequência disto, acabámos por falar de aviões de papel, de como fazer e quais os modelos.
Enquanto eu lhe mostrava um deles, dobrando e vincando a folha com afinco e rigor, qual engenheiro aeronáutico, lembrei-me de tantos produtores de imagem, estática ou animada, que tanta questão fazem em “dobrar” a imagem a meio com o horizonte, ou de lhes aplicar regras matemáticas exactas, como o número de ouro, ou ainda algoritmos digitais aplicados às cores e luzes, deixando de parte o equilíbrio, a harmonia subjectiva, a criatividade, o expressar da alma.

Se a estética se resumisse a fórmulas e regras, há muito que os computadores teriam produzido obras-primas igualáveis apenas por outros computadores.

By me 

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So far so good: I’m still wining!

And I still have those six I had yesterday at 8 am.

Na noite



No meu hábito de ir reparando no que me cerca e fazendo um eventual registo lúmico ou fonético, muitas são as situações que merecem um reparo maior que um simples olhar.
E se a importância de algumas se circunscreve ao tempo e lugar, outras há que, mesmo com essa condicionante, me sobrevivem na memória nem sei bem porquê.
Esta, que faz anos por estes dias, nunca me saiu da memória, mesmo que fugaz e inconsequente. Fica o relato, tal como o contei e ilustrei então, creio que na mesma noite.
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Estranhei-a assim que a vi.
Nada nela era estranho ou peculiar. Nem o cabelo, nem as feições, nem o sobretudo, nem a mala, nem o guarda-chuva, nem os sapatos… Nada nela estava fora do lugar. Excepto o lugar!
Aquela mulher, dos seus trintas bem medidos não pertencia ali.
Sapatos com salto de agulha com bem 10cm, imaculadamente pretos e brilhantes; sobretudo de boa fazenda cinzento escuro quase até ao tornozelo; mala de pele preta, fazendo toillete com os sapatos; cabelo preto um pouco armado mas não muito; a face com um toque, quase imperceptível de pintura; guarda-chuva de cabo longo e vareta curtas, mais parecendo uma sombrinha que feito para chuva… tudo nele estava equilibrado, justo, caro.
E era isso que era estranho. Naquela estação de caminho de ferro suburbana, por volta das onze da noite de quase fim de Dezembro, o seu olhar vagueava, meio perdido, pelos indicadores dos comboios seguintes, olhando, quase sem ver, a meia-dúzia de gente que, como eu, aguardava pelo transporte.
Deixei-a subir para o cais. Não era nada comigo e, de uma forma ou de outra, parecia ter encontrado a informação que procurava.
Passado um pouco também eu subi. Haveria tempo de um cigarrito, de um olhar e ver as luzes, o cais e as pessoas, quase sempre iguais. Talvez que nesta noite um pouco mais vazio que o habitual. Que nunca sei o que há para contar, com aparo ou luz.
Quatro pessoas aguardavam. Comigo cinco. E a senhora lá estava, sentada nos bancos de plástico sobre a pedra fria, joelhos bem unidos, malinha sobre eles, sombrinha de chuva ao lado.
Os anúncios sonoros estariam avariados, que nada nos disseram da chegada da composição. Mas ela viu-a, luzes fortes surgindo da curva. E levantou-se, aproximando-se da beira do cais. Ansiosa, pareceu-me.
Mas a sua inexperiência nestas lides ferroviárias e nesta linha em particular foi evidente: O seu olhar franziu-se quando se apercebeu que o comboio se encostava no outro cais. Olhou em redor, perturbada.
Primeiro para as escadas. Suponho que pensando se teria tempo de trocar de cais. Não teria. Depois para os quadros indicadores. Para um lado e para o outro, tentando perceber o que se passava.
À distância fiz-lhe um sorriso, talvez não perceptível na noite. E, com as mãos, um gesto de “calma”. Continuou olhando, perturbada, até se ir sentar de novo, na mesma posição.
Aproximei-me até uma distância audível mas não intrusiva, e disse-lhe:
“O nosso vem a seguir e pára aqui deste lado. Aquele segue mas fica a meio caminho.”
“Obrigada.” Disse sorrindo. Era triste, o seu sorriso. Nem bonito nem feio: apenas triste. E deixou-se ficar, já sem olhar para nada que não em frente.
Quatro minutos e meio cigarro depois chegou o que queríamos: eu, ela e os talvez já quinze demais passageiros que, entretanto, haviam subido ao cais. E todos embarcámos com direito a lugar sentado. Àquela hora, naquele dia, dificilmente não os haveria.
Quando desembarquei, vinte minutos depois, ficou a bordo: sentada, direita e muito composta, de olhar fixo bem para além da frente da composição. Nem bonita nem feia, apenas triste, nos seus trintas e tais, por sob as suas roupas e acessórios caros e ali invulgares.


Para onde iria e o que a teria “obrigado” a viajar ali, então e assim, nos subúrbios? Em que teia terá ficado presa?

By me

domingo, 27 de dezembro de 2015

Just for the fun



Aqueles que se dedicam à fotografia, por amor à arte ou por amor ao dinheiro, sabem com toda a certeza que fotografia não é apenas a obtenção de imagens estonteantes, com luz, cor e assunto de cortar a respiração.
Essas são as excepções e, como disse um Mestre, “Um ano com doze boas fotografias, é um excelente ano.”
O resto do tempo fazemos imagens normais, quiçá banais, em linha com as nossas próprias ideias e conceitos. De forma e conteúdo.
Algumas, muitas talvez, naquela categoria do “Isto não mostro que tenho vergonha de o ter feito!”
Não sou nem mais nem menos que todos os outros, pelo que aqui fica.
Classificação? A que entenderem.

Just for the fun!

Nada como o primeiro: séria, sólida e duramente recusado.

By me 

The end



By me

sábado, 26 de dezembro de 2015

Mastigados



É verdade que sim!
Somos o resultado daquilo que fizemos, vivemos e pensámos, junto com o material de origem.
Algures na minha adolescência, naquela época em que o que acontece marca qual ferro de ferreiro em forja ardente, li um pequeno livro.
De bolso, edição única ao que vim a saber, tinha por título “Os mastigados”, escrito por Roussado Pinto e publicado em 1973.
Perdi o rasto ao livro e só há pouco tempo me regressou às mãos.

Mas nunca deixou de me atazanar a vida, os mastigados da vida.
E nós, pequenos burgueses ou aspirantes a tal, só nos lembramos deles, dos mastigados, em épocas como esta.


Boas festas!

By me

Um almoço de natal



Vi-os à distância, por entre os parcos arbustos do jardim por onde caminhava.
E eles também me haviam visto, pelo menos um deles. Que, sentado no banco, me apontava a dedo e dizia algo para os outros, que se riam a bom rir.
Quando passei por perto esse, de barrete de lã preto na cabeça, chamou-me. E quis que confirmasse junto dos demais que eu o havia fotografado, e à mulher, há uns anos e na outra ponta do jardim.
Não me recordava eu da fotografia em concreto, mas considerando o local e o descrito, as probabilidades eram elevadas e concordei. E fiquei de a procurar nos arquivos, de a imprimir e levar um destes dias. Amanhã, queria ele.
E, enquanto terminava o seu almoço – bacalhau, couves e ovo cozido, comidos de uma embalagem de alumínio com um garfo de plástico – os seus companheiros faziam questão de evidenciar a garrafa de vinho que, de pé no chão, já ia em mais de meio.
Afastei-me fazendo questão que este almoço especial, num dia especial, acontecesse entre companheiros de sorte ou infortúnio, pese embora a total ausência de privacidade de um banco de jardim.
Quando o meu deambular me trouxe de volta, ingerido que fora o café raro de encontrar nesse dia, abordou-me de novo.
E contou-me que era o engraxador ali do portão, que a reforma vai chegar em Janeiro e que, com esses cinco mil euros vai poder, finalmente, visitar a família na Madeira. Que o que por cá ganhava entre o varrer as ruas, carregar lixo e engraxar sapatos nunca deram para muito. Mas que agora, depois do falecimento da mulher, tudo se torna mais fácil. Ou mais difícil.
E entre o bom e mau humor, vindos directos do gargalo da garrafa, fez questão de ser fotografado com os companheiros, que dele se riam a bom rir mas que o acompanharam na função. Até porque, neste dia especial, as roupas estavam limpas, os cabelos lavados e as barbas feitas.
Ficou-me o encargo de imprimir e levar as fotografias.
Que, espero, não contassem vê-las aqui.
Se por outro motivo não fosse, a privacidade de uma festa e almoço de natal, comido e bebido num banco de jardim, é para manter a todo o custo.

Ficam, em alternativa, com a imagem de alguns que no final desse dia tinham uma casa normal, e não um qualquer vão de escada, a que regressar.

By me

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Uma fábula



Há muito, muito tempo, numa terra muito, muito longe, o sr. Pilim e a srª Narta tiveram um filho. Carinhosamente deram-lhe o nome de Dinheirinho.
Sabendo do acontecimento e exultantes com a boa nova, de imediato três magos de reinos distantes se dispuseram a venerar e ofertar. Vinham eles do reino do Fisco, do reino da Banca e do reino do Comércio.
Ajoelhando-se à chegada, logo lhe entregaram o que traziam: um cartão de crédito, um cartão de cliente e um cartão de contribuinte. E disseram-lhe:
“Aqui tendes as nossas oferendas. Acreditamos que com elas sereis maior e mais poderoso. Usai-as como entenderdes.”
E assim aconteceu: o recém-nascido cresceu, a sua palavra e influência espalhou-se pelos quatro cantos do mundo e tornou-se omnipotente, omnipresente e omnisciente.
Os magos, por sua vez, deram graças pelo seu desenvolvimento e trataram de erguer, em tudo quanto é lugar, templos de veneração: Repartições de Finanças, Instituições de Crédito e Centros Comerciais.
E hoje, todos acorrem aos locais de culto em datas como esta, fazendo as suas preces e doando as suas oferendas, num ritual sempre acarinhado pelos sacerdotes.

Contada esta fábula, tenho que ir ali ao balcão agradecer com uma oferenda este bolo e bica e seguir depois para fazer uma promessa por uns cigarritos que gastarei. Alguém aí tem lume?


By me

Tradições



Neste Natal que não está nem frio nem quente, entalados que estamos entre obrigações legais, morais e outras que tais, apetece-me começar o dia com uma fotografia antiga e um conceito que, não sendo meu, o tomo como tal:

O céu é o meu tecto, a terra a minha pátria, a liberdade a minha religião.


Quanto ao resto que importa – os afectos – e muito mais que normas, regras ou convenções, acontecem para além dos ditames da razão.

By me 

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

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O melhor de encontrar uma resposta é descobrir novas perguntas.

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Com todo o bloqueio que conhecemos aos refugiados, de ambos os lados do mediterrâneo, pergunto-me onde diabo vai o tal casal abancar esta noite.
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Autocracias



Terminou hoje o prazo para formalizar as candidaturas para a eleição à presidência da República.
De acordo com o tribunal constitucional, foram apresentadas dez, que deverão ainda ser analisadas para aferir da sua legalidade.
Até aqui, tudo bem.
O que já não está nada bem é terem as estações de televisão generalistas acordado num conjunto de debates a dois entre sete dos candidatos. Acordo este firmado no início de Dezembro. E, ao que sei, não alterado até agora.
Podem as estações de televisão, e os respectivos directores de informação, decidir quem é relevante numa eleição nacional e quem deve ser deixado de fora?

Algo de muito podre e autocrático acontece nas televisões nacionais!

By me

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Sinto-me muito mais tranquilo: afinal, a tradição ainda é o que era!
Consultando as programações televisivas, constato que está previsto a exibição de “Música no coração”.

Só não consegui foi encontrar o “Sozinho em casa”, o “White Christmas” ou “Oliver Twist”. Mas também não fui verificar todos os canais por cabo.  
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Quem vê caras...



Ela tinha uns olhos bonitos. Caramba! Como eram bonitos os seus olhos!
Não apenas a cor, de um verde pálido, aquoso, quase transparente, como o formato, de um amendoado estranho, suave, quase redondo não o sendo. Sem pinturas ou enfeites. Bonitos de ficar a olhar, mesmo naquele autocarro já apinhado de gente.
Em condições normais, na rua, com alguma calma e luz, certamente que a abordaria para os fotografar. Deixar escapar uns olhos daqueles seria pecado. Mas…
Mas o treme-treme do autocarro, o facto de aqueles olhos mal terem reparado em mim, divididos que estavam entre o conversar com a senhora sentada à sua frente e o telemóvel no facebook… difícil seria obter uma imagem daqueles olhos lindos de morrer.
E se os olhos são o espelho da alma, estes seriam bem mentirosos. Que toda aquela beleza de olhos era bem o oposto daquela alma negra e feia.

Sentada que estava num dos bancos reservados a pessoas com necessidades especiais, bem que viu o idoso que entrou de muletas. E rapidamente desviou o olhar para a tecnologia que tinhas nas mãos.
Tal como os belos olhos bem se fixaram, por uns instantes, naquela senhora com uma menina ao colo. Mas foram atraídos por um qualquer detalhe na tarde quase escura lá de fora.
Tal como varreram o possível de ver no meio de toda aquela gente o outro já velho e também de muletas que se agarrava com dificuldade a um varão do chocalheiro autocarro.
E foi com uma nítida raiva que olhou para a velha cigana sentada a seu lado, toda de negro profundo incluindo o lenço na cabeça, quando ela lhe deu uma cotovelada e lhe disse, bem alto: “Dê lá o lugar ao velhote! Não vê que ele mal se aguenta de pé?”
A resposta foi atabalhoada, com um mal pronunciado “Não tinha visto”, mas lá se levantou. Gesto inconsequente, que o lugar foi recusado com o argumento de que iria sair na paragem seguinte e era mais fácil nem se sentar.
E aqueles olhos lindos, bem como o seu rabo pesado e alma feia, voltaram a ocupar o banco, sem se preocuparem com outros idosos, de cabelos alvos, que se apertavam e encostavam uns aos outros no corredor apinhado.
Irritou-me! Mesmo! Um olhar bonito, mas bonito mesmo como aquele, não desculpa o desprezo pelos demais. Principalmente se ocupando um lugar reservado.

Aconteceu sairmos na mesma paragem minutos depois. E eu, irritado que estava, achei que não podia perder a ocasião.
Afivelei o meu mais charmoso sorriso e, sacando da câmara do bolso, abordei-a.
“Desculpe. Posso fotografar os seus olhos? Só os olhos!”
“Aaaah… Não, obrigado. Estamos com pressa.” E seguiu com a talvez mãe, talvez tia.
Tal como eu. Esforçando-me por manter o sorriso, insisti:
“É que, sabe, gosto de fotografar olhos bonitos. E os seus são lindíssimos. Posso?”, ao mesmo tempo que exibia a câmara.
Abrandou um pouco o passo, olhou para mim e insistiu meio sorrindo:
“Obrigado, mas estamos com pressa.”
“Mas é que gosto mesmo de fotografar olhos bonitos. Bonitos como os seus. E gosto mais ainda quando escondem uma alma negra e feia como a sua!”
Aqui estacaram ambas e enfrentaram-me. E continuei, mantendo o sorriso mas esfriando o tom de voz:
“Que bem vi como fez o possível por não ver quem precisava do lugar sentado que ocupava. Tal como vi o olhar que lançou à velha cigana quando ela a obrigou a levantar-se. E agora, vendo-a a caminhar sã e escorreita como se espera das suas vinte pouco primaveras, que não sei se invernos, ainda mais lhe reconheço a fealdade da sua alma.
Ainda tentou responder algo, mas não deixei, continuando:
“Mas, no fundo, ainda bem que não deixa. Agora já não sei se quero ter algo seu, mesmo que uma fotografia dos seus bonitos olhos. Sabe que mais? Boas festas, ainda que não merecidas!”
Dei meia volta e afastei-me.
É que, no fim de contas, nem sei se ela merecia ou se entendeu o responso. E se eu continuasse, talvez que viesse a recorrer a termos menos urbanos.


Quem vê caras – ou olhos – não vê corações. E estes foram a alma negra deste natal.

By me 

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

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A luz é a minha matéria-prima, a perspectiva a minha ferramenta!
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terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Pequenas lembranças



Só para recordar aos amigos e outros que, coisa e tal, o natal está à porta, que é época de boas vontades, que se costumam oferecer pequenas lembranças…

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Feliz qualquer-coisa



Passei hoje o dia, e sempre que vinha a propósito, a desejar “Bom Solstício”. A conhecidos e desconhecidos.
Com este desejo, e face à enormidade de desconhecimento sobre o assunto, acabava por explicar a importância da data (das datas) na civilização e no planeta.

Agora, que o sol já se escondeu e que a noite está fria, fico sem saber se terá servido para alguma coisa, isso e o que de mais fiz durante o dia, no sentido de “Bom qualquer-coisa” para o futuro ou se mais não passará que de excentricidades de um tipo de barbas que tem a mania.

By me 

Azar



As coisas são como são e, por vezes, pecam pela extraordinária falta de imaginação.
Esta fotografia mostra um pedaço de um cartaz publicitando o mais que badalado filme da saga “guerra das estrelas”.
O que me fez gastar alguns segundos no observar com atenção e fotografar foi o que o protagonista tem na mão: uma pistola.
Presume-se que se tratará de alta tecnologia, de acordo com o demais que vemos no filme: raios, naves espaciais, espadas de luz…
No entanto, azar o meu, reconheci quase de imediato a base do que nos mostram.
Nada mais é que uma velhérrima Mauser C96, de fabrico original alemão, que começou a ser fabricada em 1896 e terminou em 1937. Foi, ao que apurei numa pesquisa, copiada na China e na Espanha, tendo sido produzidas bem mais de um milhão de unidades.
O que nos mostram é essa mesma, com uns acréscimos de ferragens e miras, numa fantasia estranha e não coerente.

Caramba!

Seria de esperar alguma originalidade nos criadores de adereços de tal filme.

By me 

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

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Não sei que fazer da minha vida. Eu, que frequentemente me engano e tantas dúvidas me assaltam.

Mas também não aspiro a ser presidente de coisa nenhuma, que já me basta tentar sê-lo da minha própria existência.

Hoje



Saiba-se:
Hoje é A Véspera. O dia que antecede o Dia Importante. Ou, se preferirem, o dia que antecede a Noite Importante.
Refiro-me, entenda-se, ao Solstício de Inverno.
A próxima noite, de 21 para 22 de Dezembro, será a mais longa do ano. E o momento astronómico que lhe está na origem acontecerá por volta das quatro e pouco da madrugada.
Já ninguém recorda esta data. Ou quase ninguém. Os dias em que a duração do dia e da noite mudam para maior ou para menor, em que convencionámos serem os inícios das estações, que aprendemos na escola… já ninguém recorda.
Fica-nos, antes sim, as comemorações de um nascimento, que talvez nem tenha acontecido neste dia ou no ano referido, fica-nos o sermos “bonzinhos” por um curto período, fica-nos a ânsia do consumismo fútil, da mesa farta e do convívio hipócrita.
Mas esta data, celebrada desde tempos imemoriais, que implicaram mesmo um esforço descomunal na construção de monumento megalíticos, observada e respeitada ano após ano, milénio após milénio… já ninguém recorda.

Por mim, que nada decido sobre o destino dos Homens, se o fizesse decretaria estes quatro dias como sendo feriados mundiais.
Que os Equinócios e os Solstícios, bem mais que nascimentos, guerras ou mortes, demonstram o quão importante é o universo, no seu equilíbrio e evolução.

O resto? Efemérides que cairão no olvido, como Zeus, Amon ou Odin.

By me 

domingo, 20 de dezembro de 2015

Métodos



Para que conste:
Eu não tenho a casa desarrumada!

Apenas uso diversos métodos organizativos, todos ao mesmo tempo.

By me

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sábado, 19 de dezembro de 2015

Panelas de natal



A tradição familiar dizia que o Menino Jesus descia pela chaminé para pôr prendas no sapatinho.
Assim, depois do jantar, a cozinha era imaculadamente arranjada, o fogão forrado com papéis “bonitos” e os sapatos colocados em cima deles.
Na manhã de natal os pequenos, depois de toda a família acordada, eram autorizados a entrar na cozinha onde, para deslumbre total, lá estavam os presentes. Poucos, que os sapatos eram muitos, mas apetecidos e apreciados.
O mais velho dos quatro foi, naturalmente, o primeiro a ser informado da verdadeira história e a ser incluído na cerimónia da colocação das prendas. Depois do fogão decorado e os mais pequenos terem recolhido à cama, foi a sua vez de colocar as prendas para toda a família, indo então deitar-se, que não poderia ver as que lhe eram destinadas antes dos outros acordarem.
Acordou ele a meio da noite, com vontade de urinar, e dirigiu-se à casa de banho. Mas logo lhe passou a vontade.
Com receio que furasse o bloqueio à cozinha, tinham atado uma cadeira com tachos e panelas ao puxador da porta do seu quarto. Quando a abriu, tudo se espalhou pelo chão, acordando a casa por inteiro.
Não me recordo, ao certo, qual ou quais as prendas que recebi nesse ano. Tenho a vaga ideia de ter sido um “Renault 16” do “Tour de France” que esventrei e em cujo interior coloquei um pesado íman de bicicleta. Com ele ganhava toda as provas de todo-o-terreno que na rua se faziam.

Mas ainda hoje, quando a família se reúne, ninguém me acredita que, então, só queria mesmo ir à casa de banho.

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sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Soluções



A história é velha, dos tempos em que eu dava aulas numa escola e em que não tinha ainda uma câmara digital. E dos tempos em que ainda não havia parquímetros na cidade.

A escola ficava bem ao fundo de uma rua comprida, que possuía passeios bem largos de um dos lados. Esses passeios eram parcialmente ocupados por automóveis estacionados em espinha, parte no passeio, parte no asfalto, dando espaço para todos em segurança: peões e veículos.
Acontece que mesmo no fim da rua, na curva em cujo lado de fora ficava escola, tal não era possível de fazer: se se deixasse espaço para os peões caminharem no passeio, impedia-se a passagem do eléctrico da Carris, implicando engarrafamento, multa, reboque…
Pois havia um carro que todos os dias ali estacionava e, para evitar a confusão, encostava o pára-choques à parede do prédio. Bem encostadinho. Aliás, fazia-o com tanta regularidade, tão encostado e sempre no mesmo sítio, que o estuque da parede já tinha as marcas do encosto.
A solução, para todos, era contornar o carro assim parado, caminhando no asfalto e, pior ainda, de costas para o trânsito.

Uma manhã, aproximava-me eu em passo rápido da escola que ainda queria tomar um café antes de ir para a sala de aula, e preparei-me para fazer o de sempre: contornar o carro assim estacionado.
Mas, nem sei bem porquê, estaquei e fiquei a pensar: “Porque raio tenho eu que colocar a minha vida em risco, se é o dono ou dona deste carro que, além de egoísta, está a infringir a lei?”
E se pensei isto, agi em conformidade: usando o pneu dianteiro como degrau, subi para o capôt do carro, dei dois passos e saltei para o chão do outro lado. E atravessei a rua onde devia, em segurança.
Claro que os alunos que aguardavam a hora de entrarem, dentro ou fora do gradeamento, fizeram a algazarra que se adivinha, mimoseando-me com vários títulos, um dos quais um já muito meu conhecido “O maluco do prof JC”.
No dia seguinte, nada de novo. Ou quase. O carro no local de sempre e eu impedido de caminhar em segurança no passeio. A única coisa menos comum era a quantidade de malta nova que, dentro ou fora dos portões aguardava a minha chegada.
Claro que nestas coisas o que custa é a primeira vez: tornei a subir para cima do carro, dar dois passos e saltar para o chão. Sem andar aos saltos em cima da chaparia, mas também sem me preocupar qual o melhor lugar onde colocar os pés, deixando as óbvias marcas no metal.
O terceiro dia parecia dia de festa: tinha mais de metade da escola à minha espera e, discretos numa janela superior, alguns professores espreitavam para ver a função. Que se repetiu com a maior das naturalidades, com aplausos e gritaria bem audíveis quase ao fim da rua.

Nunca houve um quarto dia. Aquele local, obviamente destinado aos peões, nunca mais foi ocupado por uma automóvel estacionado ou não. E eu nunca fui questionado sobre os danos na viatura, apesar de ser bem identificável o tipo das barbas, chapéu e de mala na mão.
Ainda hoje, quase vinte anos depois, estou para saber quem seria o dono ou dona daquele carrito branco.

A fotografia?
Não corresponde à situação descrita.

Mas foi situação recorrente há uns anos numa rua do meu bairro, que resolvi de forma semelhante, ainda que com menos ginástica.

By me 

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Traveling 28



Há uns trinta ou quarenta anos, uma objectiva de 28mm seria a segunda ou terceira a comprar por parte de quem se interessava a sério por fotografia.
A outra seria uma 135mm e a ordem da compra basear-se-ia na disponibilidade do mercado e se o comprador preferia trabalhar à distância ou perto do assunto.
No meu caso, a segunda foi uma 75-150, a terceira uma 28 e a quarta uma 90mm. No caso desta última, a opção deveu-se à sua qualidade óptica e à sua capacidade macro (1:2 directo). Foi a objectiva de que mais gostei e cujo ângulo de visão mais se ajustava à minha própria visão.
Tenho-as todas, bem como a 50mm de origem. A trabalharem como sempre e em óptimo estado.
Esta que aqui está não é a minha! Tive-a na minha posse há cinco anos e por uns quinze dias.
Chamo-lhe eu a “objectiva vadia”, ainda que o nome pelo qual ficou conhecida foi “traveling 28”.
O seu dono vive algures nos EUA e, tal como eu, é utilizador de equipamento Pentax. E, tal como eu, pertence a alguns fóruns on-line de utilizadores Pentax.
Propôs ele, um dia e num deles, uma aventura fotográfica: A mesma objectiva (esta) andaria de mão em mão por entre os membros, fotografando eles com ela e mostrando no fórum o que com ela fizeram.
Claro que a maioria de nós tinha uma semelhante, mais antiga (como eu) ou mais nova com foco automático. Ou igual.
Mas a piada do desafio era sentirmo-nos na obrigação de usarmos, por algum tempo, esta distância focal. Mesmo que, nas nossas DSLR já não fosse uma grande angular. Fizemo-lo!
Viajou ela pelo continente Americano, pela Europa e pela Ásia. Não posso já garantir, mas creio que fomos uma vintena que a usámos.
As fotografias que com ela fiz estão por aí guardadas e na net exibidas. Não serão nada de especial, mas eu também não sou grande fotógrafo.
O que tem realmente graça é o sentimento e a prática da partilha, da confiança, da fraternidade entre gente que não se conhece que não seja da virtualidade da web. Que, ao fim de um ano de viajar pelo mundo, regressou às mãos do seu dono impoluta e perfeita como havia saído.

De uma forma ou de outra, estamos a ficar viciados no uso de objectivas zoom: maior ou menor ângulo de visão, de acordo com o nosso olho e mente, sem sair do local e com pouco esforço. Esquecendo que a principal ferramenta do fotógrafo se chama “perspectiva”. E que a melhor zoom que podemos ter é a dois tempos e chama-se “pé-direito-pé-esquerdo”.
Fica a dica, para quem se interessa por fotografia para além das festas, férias ou gatinhos:
Escolham uma distância focal, quer seja uma focal fixa, quer seja uma zoom, e durante um dia ou uma semana fotografem apenas com ela. E, se o assunto não couber ou ficar muito pequeno, mexam-se.


Talvez que descubram todo um mundo novo no fazer de imagem.

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Episódio natalício



Era a véspera de Natal e ele estava de regresso a casa.
O dia tinha estado francamente tempestuoso e a noite, ainda que aparentasse estar calma, apenas anunciava que a qualquer momento iria igualar o dia.
O caminho entre a estação habitual e casa era longo e a subir. E boa parte dele desabrigado. O risco de ser apanhado a meio caminho pela tempestade era grande e desconfortável.
Decidiu optar pela solução alternativa: desembarcar mais à frente, na estação seguinte, onde havia uma praça de táxis. Sentado e protegido da chuva e do vento, chegaria a casa.
Mas era véspera de Natal.
Os motoristas de táxi estariam na missa do galo ou no aconchego familiar e nem um aparecia para serviço. Nem mesmo a central telefónica atendia, que a telefonista deveria também ter tido a noite livre.
A solução última seria enfrentar a noite e a tempestade, se desabasse.
Na esquina surgiu um. Um táxi. Um carro de praça. Uma viatura que o haveria de levar a casa. Ocupado. E vinha de um outro concelho, não podendo ali recolher passageiros.
“Sorte a daquele!”, pensou ele. “Safou-se!”
Minutos depois, já com decisão da caminhada tomada mas não concretizada, eis que o táxi regressa. Encosta da praça, abre a janela e pergunta ao solitário que ali aguardava por um táxi que não havia:
“Vai para onde?”
Ele lá lhe respondeu, sabendo que de pouco serviria. Aquele carro não podia, ali, recolher passageiros. Manda a lei e a classe profissional é muito ciosa dos seus territórios.
“Venha, que o levo. Hoje, a esta hora, não consegue aqui apanhar um. Tem é que me dizer o caminho, que não conheço esta zona.” E, já em trânsito, acrescentou: “E sempre escuso de fazer todo o caminho para Lisboa vazio.”



Naquele ano, sem barbas e disfarçado de motorista de táxi, o Pai Natal apareceu-me uma hora mais cedo.

By me

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

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Há o sentido proibido. O sentido de orientação. O sem sentido. O sentido de humor…

É interessante constatar que o primeiro é o mais abundante, sendo encontrado a cada esquina e que o último, sendo o mais valioso, é o mais raro.

Hora-destino



Dizem os especialistas que para acordar um ser humano, mesmo que em sono profundo, basta um choro de um bebé. Por muito fraco que seja.

Já quando estamos acordados basta uma frase, mesmo que dita baixinho.

By me 

Diálogos



Excerto de “Diálogo con la fotografia” de Paul Hill / Thomas Cooper, collecion fotografia, 2ª edição 2011, Editorial Gustavo Gili.
Pedaço de uma suposta entrevista com Man Ray

“…
Yo también he tomado fotografias de esa manera, quando mis otras câmeras tenían desperfectos. He llegado a tomar fotografias sin poner lentes en la câmara. Una vez tenía que fotografiar un pintor y llegué com mi câmara de estúdio, mi típode y el resto. Comece a disponer la escena, pêro había olvidado el objectivo. Yo conocía su tamaño porque me había recetado mis próprias gafas y sabia mucho de óptica. Sabia que mis lentes tenían una distancia focal de 30 cm, pêro desde logo comprendí que lograria una imagen confusa. Tenía un rollo de cinta adhesiva, coloque mis gafas en la abertura de la câmara y dejé caer el paño negro, al que hice un pequeño orificio como diafragma. Levante el pañoy lo dejé caer, e así obtuve el retrato de matisse, una fotografia hermosa, com todos los detalles visibles.
…”


A ilustração é minha