segunda-feira, 10 de março de 2014

Elogios



É daquelas coisas:
Quando saio do trabalho estou numa avenida. E tanto a posso atravessar e apanhar um autocarro para cima, como não atravessar e apanhar um autocarro para baixo. A principal diferença está no percurso de autocarro, num sentido e no outro, bem como o local onde apanho o comboio depois, bem como o seu trajecto.
Esta noite, em saindo do trabalho, estava a passar um para cima. Deixei-me ficar à espera de um para baixo, naturalmente.
E foi o meu erro. Ou talvez não.
Cheguei à estação quase na hora de subir para o comboio que queria. Tudo certinho pensei eu, enganado que estava.
Que, poucas estações depois, travou de súbito entre duas, não havendo forma de retomar a marcha. Por aquilo que percebi de conversas entre maquinistas, fora uma avaria grave, um misto de sistema computorizado e mecânico. Que eles não conseguiam, de forma alguma, resolver.
Uma hora depois, deixaram-nos sair para a via (um salto de mais de um metro), e caminhar uns cem metros, se tanto, até à estação à frente, onde um outro comboio, que vinha atrás de nós, nos esperava.
Vicissitudes de quem se desloca de comboio, se bem que tenha sido uma estreia para mim, veterano que sou nestas andanças.
De salientar, no entanto, dois detalhes importantes.
A descida para a via era, como disse, alta. Saímos pela porta da frente, que tem uns degraus de serviço muito pouco fáceis de usar. Tanto mais que de noite e sem se saber onde estavam.
Percebendo a situação, oiço o maquinista dizer para o revisor: “Dou permissão para que saiam pela porta aqui da cabine, que é mais fácil.” E foi por onde aí. Eu e mais uns quantos, incluindo duas crianças, a mais velha das quais nem teria seis anos.
Interessante o ele dizer “dou permissão”!
Um pouco depois, e já em trânsito, converso com um revisor da CP meu conhecido. E fico a saber que a cabine de um comboio é “território sagrado”, que nem um director tem permissão de aí viajar se o maquinista o não quiser.
Faz sentido e foi simpático da parte do maquinista ter aberto as portas de tal espaço. Tanto mais que não se tratava exactamente de uma emergência.
O outro detalhe foi o comportamento do revisor. Impotente perante a avaria, que a não saberia resolver sequer, o seu desvelo e cuidado com os passageiros ultrapassou, de longe, quaisquer expectativas. Principalmente quando, mesmo que incómodo e provocar atrasos beras nas vidas de quem quer regressar a casa, não há feridos a lamentar.
Fica aqui o seu nome, como exemplo: João França.
Em nome de todos os passageiros daquela composição, o meu obrigado.
E a certeza de que amanhã, em encontrando as palavras certas, farei chegar o elogio devido à empresa onde trabalha.
Quanto à fotografia, é de arquivo. Entre o ir matando o tempo com um livrinho com a história da fotografia no Brasil, o ir ouvindo e vendo as tentativas de repor a composição em andamento e o observar o comportamento dos meus companheiros de infortúnio, não se me deu para fotografar. E era de noite.



By me

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