sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Pré-epitáfio

Em tempos conheci um mestre!
Sócio na traineira que comandava, nos mares algarvios e na costa Vicentina, o Mestre Luís Benjamim era um homem ímpar.
Firme no leme e no sonar, assim como com a companha, a sua generosidade para com o mar e a gente que o amanhava era enorme. Mas bem maior que ela era o gosto que tinha pelo que fazia. Meio a sério, meio a brincar, costumava dizer que era no mar e junto da roda do leme que gostaria de morrer.
A vida, mãe ou madrasta como quiserem, fez-lhe a vontade. Uma noite o coração colapsou-se-lhe enquanto que com as mãos na roda buscava cardume.
Quando o soube, muito tempo depois, sorri e disse de mim para mim que era assim que gostaria de morrer: fazendo algo de que goste!
Há pouco, quando preparava o saco da “tralha” antes de sair, não tive dúvidas!
Não sei o que o futuro me reserva, ainda que certamente decidido por mim. Mas se puder escolher ou dar uma ajudinha, gostaria que fosse a fotografar. A tentar fazer com que a luz que vejo se materialize no papel ou no fósforo, se possível provocando algumas reacções a quem as veja.
E na minha tumba, se a isso tiver direito e se se justificar, no lugar de uma cruz coloquem uma objectiva encastrada num cérebro.
Afinal, é isso que tenho feito quase toda a vida!


Texto e imagem: by me

1 comentário:

grito disse...

Este post é mais interessante na medida de que vai ao encontro do conteúdo de um que tenho estado em falta por fazer.
A notícia do óbito lia-a no jornal. Quando a li, sorri. Pois se o homem, pescador, sempre disse que queria pescar até morrer e quem lhe tirasse a pesca tirava tudo, teve a morte que desejou. Tenho mesmo de fazer este post...

Não sei se quero morrer a fazer algo que goste, só sei que não quero morrer entre quatro paredes, de costas numa cama, a olhar um tecto e não uma paisagem espetacular. Bolas! É a despedida. Que não seja tão insignificante.