São dois.
Batem regular e apressadamente a zona, jardim incluído. O seu olhar rápido de predador ou de acossado analisa os presentes e, destes, quais os potenciais clientes.
Um deles, o mais baixo, é quem transporta os pequenos pedaços de lousa que esculpe com uma simples chave de fendas e cuja venda promove junto de quem por ali está.
O outro, o mais alto, acompanha-o de perto e com a mesma velocidade no périplo, mas mantém-se afastado e vigilante aquando da conversa para vendas. E, tanto quanto me foi dado a observar, faz a barba uma vez por semana.
A mesma frequência com que, ao que parece à distância, mudam de roupa e tomam banho. Já entraram na casa dos 50’s há algum tempo e, pelo aspecto, actividade, olhares e frenesim de gestos e tiques, parecem ser toxicodependentes de longa data.
Nunca meteram conversa comigo. Afinal, a minha presença ali regular e daquela forma não me torna num potencial cliente mas antes num eventual concorrente de negócio. Até um dia destes.
O mais baixo passou por mim, sozinho, e meteu conversa. Admirou a câmara e quis saber que “lente” eu usava, distâncias focais e aberturas. Enquanto tentava encontrar as respostas, olhando e espreitando por ela, sempre me foi dizendo que em tempos tinha andado no ramo, como fotógrafo de reportagem e subaquático, ali para os lados de Peniche.
Conversa vai, conversa vem, e em sabendo o preço, quis fazer o retrato. Enquanto a imagem imprimia, foi fazendo o questionário habitual e, em chegando à questão de “ofício”, disse-me ser engenheiro electrotécnico. Espero que a minha barba e a pala do meu boné tenham escondido o meu espanto, que as minhas palavras não o demonstraram certamente.
Mas, ao mesmo tempo, a minha admiração.
O seu futuro é tão risonho quanto os seus dedos tintos e as pedras negras que esculpe e vende. Estou em crer que o sabe com a certeza de quem luta para manter o vício.
Mas o seu orgulho e amor-próprio ainda não foram atingidos! Afinal, um título é um título, que nunca se perde. Ainda que pertença a um passado distante e nebuloso.
Mas nunca se sabe quando ou se o céu clareará.
Texto e imagem: by me
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
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