segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Cidadania

Fui convocado para comparecer em tribunal.
Nada que me diga directamente respeito: serei testemunha num diferendo que opõe a empresa em que trabalho a um ex-funcionário e colega.
Sendo que temos folgas aos dias mais díspares e horários diversificados, podendo começar de madrugada ou terminar também de madrugada, com todas as variantes intermédias, assim que soube da convocatória tratei de informar a chefia, solicitando que me atribuísse um horário compatível, ou mesmo folga, para não interferir com o normal funcionamento dos trabalhos. Atribuíram-me folga.
Ontem, comentando o caso entre companheiros de trabalho, opinou um, que também estará na audiência:
“Eh pah! É preciso azar! Ficas com a folga estragada. A mim deram-me horário de entrar ao fim da tarde, mantendo assim as minhas folgas só para mim.”
Olhei para ele de rijo, emiti um comentário leve e sem grande significado, e afastei-me.
Adianta dizer-lhe, a ele e aos demais que com ele concordaram, que ir a tribunal ajudar a repor a justiça não é estragar uma folga? Que é algo que devemos fazer, mesmo que fora do tempo em que trabalhamos, mesmo que em dia de folga, já que faz parte dos nossos deveres cívicos, que é aquele pedacinho que podemos e devemos fazer em prol da sociedade? Que qualquer um que peça justiça gostará que os seus concidadãos dêem um pouco de si para que aconteça?
Espero que a situação não se materialize. Mas se, no futuro, este ou algum dos que com ele concordaram necessitarem da minha contribuição, na justiça ou de outro modo, talvez eu esteja de maré, talvez a minha memória seja curta, talvez tenha esquecido este episódio, e lhes diga que sim, que terei todo o gosto em os ajudar. Em fazer aquela pequenina parte que me compete, enquanto membro desta sociedade.
Porque ser cidadão não é apenas exigir mas, e principalmente, contribuir e exercer a cidadania.

Texto e imagem: by me
(Propositadamente, este texto foi escrito à revelia do novo acordo ortográfico)

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