O meu horário de trabalho desta semana, como assalariado, faz com que tenha que sair da cama pelas 3.30 da madrugada.
Poderia ser, digamos, hora e meia depois: Uma corrida para o duche, seguida de uma passagem fugaz pela cozinha, fariam a festa.
Mas gosto de enfrentar a vida, nas suas obrigações diárias, tendo antes feito algo que me dê prazer, como a escrita ou o tratar fotografias. Desta forma, ao sair para a rua, levo o papo cheio de satisfação e vou gastando essa reserva de bom-humor nos aborrecimentos do quotidiano. E deito-me ao fim do dia com o depósito de estar de bem com a vida a zeros. Isto ao invés da maioria, que enfrenta o dia com o depósito vazio e chega a casa com a necessidade de o encher para obter algum equilíbrio.
Mas este horário obriga-me a recolher à cama cedo: algures entre as 19 e as 20, se quiser dormir alguma coisa de jeito. E assim o fiz ontem, com o sério receio de vir a ser acordado com buzinas, sopradelas em vuvuzelas, gritarias e afins: era noite do tal malfadado “jogo ibérico”, como alguns comentadores desportivos intitularam.
A meio do meu sono despertei, como receava. Uma buzina, potente, fazia-se ouvir na rua, quase por baixo da minha janela. No meu estremunhar terei dito (ou pensado) alguns palavrões pouco abonatórios contra o autor da brincadeira, e fui espreitar para o conhecer. Mas, ainda no acto de me levantar, olhei um dos relógios que teria por função acordar-me, com intervalos de poucos minutos, aquando do toque de alvorada: ainda não batiam as vinte e quatro.
Por isso, enquanto chegava e não chegava à janela, já sabia o que se passava e passara: o que me acordara não fora uma qualquer celebração mas tão só o protesto de quem conduzia o camião de recolha do lixo por haver carros estacionados impedindo-lhe a tarefa.
Quando voltei para a cama, minutos depois, vinha com um sorriso, amarelo, nos lábios e com algumas certezas:
Era, de facto, o camião do lixo;
Iria encontrar, quando me apresentasse ao serviço, uma mão-cheia de colegas de péssimo humor matinal e amaldiçoando jogadores, treinadores, bolas e balizas, bem como repetindo o velho adágio “de Espanha, nem bom vento nem bom casamento”;
A certeza de que, até ao próximo evento desportivo supra-nacional, não mais terei de enfrentar vuvuzelas, gritarias ou histerias colectivas.
Mas a cereja to topo do bolo é o eu saber que, excepção feita a alguma incivilidade habitual de algum vizinho automobilista, poderei continuar a dormir descansado. E a esperança, talvez ingénua, que este nacionalismo exacerbado que temos vivido fique reservado para, por exemplo, o próximo acto eleitoral.
Texto e imagem: by me
Poderia ser, digamos, hora e meia depois: Uma corrida para o duche, seguida de uma passagem fugaz pela cozinha, fariam a festa.
Mas gosto de enfrentar a vida, nas suas obrigações diárias, tendo antes feito algo que me dê prazer, como a escrita ou o tratar fotografias. Desta forma, ao sair para a rua, levo o papo cheio de satisfação e vou gastando essa reserva de bom-humor nos aborrecimentos do quotidiano. E deito-me ao fim do dia com o depósito de estar de bem com a vida a zeros. Isto ao invés da maioria, que enfrenta o dia com o depósito vazio e chega a casa com a necessidade de o encher para obter algum equilíbrio.
Mas este horário obriga-me a recolher à cama cedo: algures entre as 19 e as 20, se quiser dormir alguma coisa de jeito. E assim o fiz ontem, com o sério receio de vir a ser acordado com buzinas, sopradelas em vuvuzelas, gritarias e afins: era noite do tal malfadado “jogo ibérico”, como alguns comentadores desportivos intitularam.
A meio do meu sono despertei, como receava. Uma buzina, potente, fazia-se ouvir na rua, quase por baixo da minha janela. No meu estremunhar terei dito (ou pensado) alguns palavrões pouco abonatórios contra o autor da brincadeira, e fui espreitar para o conhecer. Mas, ainda no acto de me levantar, olhei um dos relógios que teria por função acordar-me, com intervalos de poucos minutos, aquando do toque de alvorada: ainda não batiam as vinte e quatro.
Por isso, enquanto chegava e não chegava à janela, já sabia o que se passava e passara: o que me acordara não fora uma qualquer celebração mas tão só o protesto de quem conduzia o camião de recolha do lixo por haver carros estacionados impedindo-lhe a tarefa.
Quando voltei para a cama, minutos depois, vinha com um sorriso, amarelo, nos lábios e com algumas certezas:
Era, de facto, o camião do lixo;
Iria encontrar, quando me apresentasse ao serviço, uma mão-cheia de colegas de péssimo humor matinal e amaldiçoando jogadores, treinadores, bolas e balizas, bem como repetindo o velho adágio “de Espanha, nem bom vento nem bom casamento”;
A certeza de que, até ao próximo evento desportivo supra-nacional, não mais terei de enfrentar vuvuzelas, gritarias ou histerias colectivas.
Mas a cereja to topo do bolo é o eu saber que, excepção feita a alguma incivilidade habitual de algum vizinho automobilista, poderei continuar a dormir descansado. E a esperança, talvez ingénua, que este nacionalismo exacerbado que temos vivido fique reservado para, por exemplo, o próximo acto eleitoral.
Texto e imagem: by me
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