terça-feira, 22 de junho de 2010

Um vizinho


Eu tenho um vizinho! Em boa verdade, eu tenho muitos vizinhos. Tantos e tão díspares que, em os ouvindo falar e vendo vestir, se poderia pensar estar numa delegação das Nações Unidas.
Mas, este em particular, é Português. Tal como o irmão, mais novo, é Lusitano. A mãe, ao que sei, também nasceu por cá. O pai, esse, nem nos deixa enganar: Luso dos quatro costados. Todos eles partilham a nacionalidade, mas só entre eles, que para além da língua e do que consta nos documentos de identificação, pouco mais possuem em comum como os restantes nascidos neste jardim à beira mar plantado (e mal amanhado!).
A sua rudeza, a sua má educação, a sua sobranceira, a sua falta de respeito para com os demais, contrasta veementemente com o que conheço dos meus concidadãos!
Quase que se poderia dizer que os ofícios que têm - distribuidores de periódicos de madrugada o casal, mecânicos pai e filho mais velho o resto do dia – os coloca num patamar bem sobranceiro aos restantes mortais que por aqui vivem e co-existem.
Pois este meu vizinho, na casa dos vinte e poucos, além do que dele já descrevi, é fã de carros “tunning”, ou antes “chunning” como lhes chama um conhecido meu. Suspensão rebaixada, jantes especiais, ponteira de escape 5 estrelas, volante desportivo que, de tão pequeno, se assemelha a uma torneira… E, claro, uma potente instalação sonora que, aliada ao rugido do motor, faz dispensar qualquer buzina que possa ter no carro.
E faz questão que todos saibam quando tem a viatura em andamento (ou quando apenas está a aquecer o motor), sozinho ou com a namorada lá dentro. Tal como faz questão de pintar o asfalto com a borracha queimada dos pneus, largada em curvas improváveis e sonoras, pouco consentâneas com qualquer versão do código da estrada ou mesmo com a condescendência de qualquer agente policial em fim de dia e véspera de férias.
Pois este meu vizinho tem algo mais em comum comigo que tão só o partilhar a rua: também gosta de usar o MacDonalds cá do bairro.
Não que eu goste em particular da comida que ali fornecem. Acontece que é a única esplanada simpática que por aqui existe, o que me permite que, depois de comer, ali fique fumando um ou mais cigarros sem me levantar e, se para tal estiver virado, rapar do portátil ou do caderno e entreter-me a escrevinhar umas linhas.
Este meu vizinho, cujo nome ignoro e que não faço tenções de vir a saber, deve gostar deste local por outro motivo: aqui no bairro, e para além do centro comercial e do supermercado, é o único local que possui estacionamento reservado para deficientes. Que ele faz questão de ocupar com a sua ruidosa carripana, hajam ou não outros desocupados. Suspeito que este uso se deve a uma qualquer deficiência não visível, já que qualquer sargento de recrutamento militar obrigatório lhe daria o “apto” sem olhar segunda vez.
Espero bem que não o vejamos, num futuro próximo ou não, a usar estes mesmos lugares, desta feita de crista rebaixada e em carro adaptado, na sequência de um qualquer percalço com a viatura que hoje conduz.
Não sou de vinganças, mas se eu mesmo tiver carro nessa altura, terei toda a satisfação em deixar estes espaços livres para ele.

Texto e imagem: by me

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