Por vezes pergunto-me o que me faz fazer uma fotografia.
Qual é o estimulo visual que me leva a utilizar a parafernália fotográfica, por vezes sem pensar muito, outras a usar de uns bons minutos?
Em regra o insólito, quer pelo positivo, quer pelo negativo. A surpresa de constatar algo que foge do usual e que, as mais das vezes, me desperta pensamentos extra.
Outras, pelo deleite daquilo que vejo. Ou. Para ser mais rigoroso, pelo desejo de possuir aquilo que vejo. Que, por bonito ou cativante – a situação, as cores, as formas, as luzes – bem que gostaria de ter comigo em permanência ou, em alternativa, em exibição num local onde dela pudesse desfrutar.
Mas, poderia eu levar esta árvore suas folhas, mantendo-as com estas cores, bem como o sol que as banha, para minha casas?
A alternativa será, e sempre, o registo fotográfico, quantas vezes aquém do assunto.
Talvez que, por isso mesmo, e mais que um fotógrafo, me entenda por um iconógrafo.
Texto e imagem: by me
Qual é o estimulo visual que me leva a utilizar a parafernália fotográfica, por vezes sem pensar muito, outras a usar de uns bons minutos?
Em regra o insólito, quer pelo positivo, quer pelo negativo. A surpresa de constatar algo que foge do usual e que, as mais das vezes, me desperta pensamentos extra.
Outras, pelo deleite daquilo que vejo. Ou. Para ser mais rigoroso, pelo desejo de possuir aquilo que vejo. Que, por bonito ou cativante – a situação, as cores, as formas, as luzes – bem que gostaria de ter comigo em permanência ou, em alternativa, em exibição num local onde dela pudesse desfrutar.
Mas, poderia eu levar esta árvore suas folhas, mantendo-as com estas cores, bem como o sol que as banha, para minha casas?
A alternativa será, e sempre, o registo fotográfico, quantas vezes aquém do assunto.
Talvez que, por isso mesmo, e mais que um fotógrafo, me entenda por um iconógrafo.
Texto e imagem: by me
1 comentário:
moldura
As belas iluminuras dos códices medievais que festejavam as letras e os começos, as cornijas das catedrais góticas, os altares dourados do barroco, tinham todos em comum a glorificação da «moldura». Ela não era um simples ornamento, mas o sinal de algo bem mais fundamental. Não por acaso essas molduras tinham todas uma afinidade com a curva. Ogivas, meias elipses, semicírculo a encimar rectângulos, todas apontavam para o círculo perfeito que era a imagem medieval de Deus. O mundo era emoldurado em Deus e este era a moldura do mundo. Apesar das tentativas teológicas para mostrar que o que se passava dentro da moldura era «livre», na prática a moldura da teologia política delimitava tudo aquilo que podia, ou não, aparecer, as imagens aceitáveis ou a evitar. Era menos um ecrã do que uma passagem entre o visível e o invisível. Daí a intensa dramatização das imagens, e a exclusão fora da moldura de tudo aquilo que a perturbava: o demoníaco, os fantasmas, as bruxarias, etc. Em poucos século sentiu-se que essa moldura era asfixiante, como que impedindo outras possibilidades, e acabou por entrar em crise. Pesou nesta crise o «ateísmo» dos Philosophes, e o seu gosto cartesiano com as quadrículas e as grelhas. O círculo é trocado pelo «quadrado», por uma infinidade de quadros. É uma questão antes de mais técnica. O domínio do quadrado torna-se nítido em meados do século XIX, com o surgimento da fotografia e, depois, do cinema. O mundo é, agora, cortado em quadrados, recortado pelo «frame» fotográfico, ao mesmo tempo excedendo o quadro, e eliminado por não caber nele. O cinema será mais plástico, e o vídeo mais ainda. A pintura de um Manet, por exemplo, procura obviar os efeitos de «eliminação» do real, recorrendo aos procedimentos fotográficos, mas para ampliar o real. Isso é bem nítido no quadro Bar aux Folies -Bergères, de 1882, onde os corpos e os objectos são «cortados» pelo frame, como já sucedia nos espelhos que o quadro volta a cortar. A quadro é uma «janela» aberta no real pela arte, dando sinal daquilo que a excede e que apenas a arte pode dar a ver. Não basta, portanto, dizer que a Grande Moldura desaparece, deixando todas as coisas, os corpos e as imagens, num estado livre, possibilitando ligações novas que não cabiam no «quadro» medieval. Havendo nisso um grão de verdade, fica demasiado curto. Tudo indica que, em lugar de desaparecer, a «moldura» tendeu a desmultiplicar-se numa infinidade pequenas «molduras», que servem de «janelas» e «interfaces», já não entre o visível e o invisível, mas entre a vida e o tipo, entre o arquivo e o agir. Trata-se de «frames» produzidos tecnicamente, que se fundem com as imagens, os corpos e os objectos, na medida apenas em que estes «caibam» dentro dessa estrutura. O caso da máquina fotográfica é esclarecedor. À medida que estas se multiplicaram, cada um passou a viajar com um pequeno produtor de «frames», que geometriza a existência, tornando-a quadrada ou rectangular, à semelhança dos objectos produzidos pela máquina. A grande moldura não desapareceu, antes se disseminou quase viralmente, num infinidade de pequenos frames que continuam a dominar a vida, agora formatada pela técnica e não já pelo teológico. O momento terminal deste processo seria aquele quem que as molduras desaparecessem totalmente, para libertar a vida... da própria vida, e das suas fragilidades. As molduras são mais potente quanto mais invisíveis. Trata-se de intervir no movimento que vai da invenção da moldura ao seu desaparecimento. Como mostra o pintor Mark Tansey, num quadro intitulado Discarding frame, deitar fora a moldura apenas a multiplica, aprisonando no seu interior os que têm a ilusão de se terem livrado dela.
(roubado de um antigo blog chamado reflexos de azul eléctrico)
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