terça-feira, 22 de junho de 2010

Eram três


Ouvi-os lá longe. Bem lá longe. Mesmo lá ao fundo, onde se vê aquele edifício tipo armazém.
Não tinha eu o que fazer que não fosse gozar a calidez da tarde, pelo que me deixei ficar por ali, na secreta esperança que viessem para os meus lados. Vieram!
Em passando por mim, e como não poderia deixar de ser, fizeram uns comentários brincalhões sobre a minha barba. Caramba! Os portugueses começam a manifestar alguma falta de imaginação, já que as bocas ou comentários se repetem sem originalidade. Já não me conseguem surpreender.
Mas surpresos mesmo ficaram estes três, bem como o amigo que os acompanhava, quando lhes propus fotografá-los fazendo aquilo que aparentavam saber fazer: tocar Vuvuzela.
Claro que aceitaram e fizeram-se à fotografia. Devem ignorar, estou certo, que a fotografia não regista som, pois que além da pose fizeram questão de soprar com força no maldito tubo.
Acabado que foi o audiovisual, sobrou o texto: uma “lição de moral” sobre os incómodos que provocam na vizinhança, sobre o que eles mesmos sentiriam se alguém o fizesse, digamos que às 7 da manhã, sob as suas janelas, e as consequências que aquele maldito som poderá ter sobre crianças pequenas, que, supostamente, dormem a sesta de tarde. Nem de propósito, saiu do meu prédio, que estávamos junto a ele, uma vizinha com uma criança de mama no carrinho. E a expressão daquela mãe, a olhar para os três malditos tubos, não dava azo a mal-entendidos.
Não sei se o meu discurso sobre a diferença entre uma comemoração, seja lá do que for, e causar incómodos nos outros, terá ficado gravado nestas juvenis cabeças.
O que sei é que me deixei ficar por ali, na rua, um bom pedaço mais depois deles partirem, e não os ouvi mais.
Fica o relato e o retrato!

Texto e imagem: by me

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