quarta-feira, 3 de março de 2010

Tolerância zero!


“O que mais gosto em televisão são os pássaros nas antenas!”, disse Eduardo Mazo, poeta Argentino que vive e vende as suas obras na Ramblas de Barcelona e que me faz o favor de se lembrar de mim quando me vê.
Pois hoje leio no jornal Publico o seguinte:

Supremo pede aos juízes tolerância com os jornalistas
Absolvida rádio que durante seis horas confundiu posições da defesa com argumentos dos juízes
O Supremo Tribunal de Justiça (STJ) absolveu uma estação de rádio que, em 9 de Novembro de 2005, trocou durante seis horas os argumentos da defesa de arguidos do processo da Casa Pia com os dos juízes que ilibaram Paulo Pedroso, Herman José e o arqueólogo Francisco Alves das suspeitas de envolvimento no processo da Casa Pia. A confusão acabaria por ser dissipada quando a emissora rectificou o erro.
Três meses depois, um dos três autores do acórdão reclamou cem mil euros a título de indemnização por danos morais. Nas Varas Cíveis de Lisboa, a cadeia de rádio foi condenada a pagar-lhe 40 mil euros, quantia que foi diminuída para sete mil pelo Tribunal da Relação de Lisboa. Inconformados com a decisão, tanto o desembargador como a estação de rádio recorreram para o STJ.
Considerando a ofensa "bem menos grave" do que as queixas do desembargador, o STJ realça que a qualificação pessoal e profissional do autor "não pode conduzir a uma sensibilidade sensível, mas a uma sensibilidade tolerante". A jornalista teve pouco tempo para ler e noticiar uma decisão "esperada com expectativa". Recebeu uma cópia das 163 folhas da decisão, transmitiu a notícia para a redacção e foi logo recolher as reacções dos intervenientes do processo da Casa Pia. "Os juízes, os tribunais, não podem ser particularmente sensíveis a alguns destemperos ou inexactidões na publicitação da sua actividade", afirma o acórdão do STJ. "Devem construir uma carapaça que os proteja contra a falta de rigor e atenção nessa publicitação."


Não!
Não admito nem aceito tolerâncias!
Os media – imprensa, rádio e televisão – têm assumido um papel de formadores de opinião pública. Mais ainda, ocupam o lugar de quarto poder, para além do legislativo, executivo e judicial, com uma força na sociedade tremenda e sem que sejam eleitos pelo povo. O único escrutínio a que estão sujeitos é ao económico – tem tanto mais força aquele que mais vender.
Mas este poder – que elege presidentes, demite governos e influencia a vida privada e pública dos cidadãos – não pode ser inocentado nem inconsequente.
De cada vez que os agentes deste poder errarem, estão a influir, por vezes sem retorno possível, na sociedade. É que, mesmo que um desmentido ou que uma errata sejam publicadas, mesmo que sejam apenas horas depois, o facto de terem sido ouvidos, lidos ou vistos e de o seu conteúdo ter sido, eventualmente, divulgado por quem a ele acedeu, transforma a informação original em verdade, ou quase.
E quando a verdade pública assenta em erros ou inverdades, acidentais ou intencionais, há que sancionar os agentes de informação.
O poder auto-assumido tem que ser proporcional à responsabilidade que ele acarreta. E às consequências que dele advêm.
Donde, tolerância para com os jornalistas e os seus erros não! Zero!


Texto original: in Publico.pt
Comentário e imagem: by me

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