quarta-feira, 31 de março de 2010

Números


Eu não gosto de números!
Sei que os números são o resultado da civilização e que é devido a eles que temos todas as “maravilhas” da técnica actual. Também sei que trabalhar com números, em princípio, é um óptimo método para desenvolver os raciocínios lógicos. Ou outros.
Os números definem qualidades e quantidades – arroz, cimento, energia. E definem, ou quantificam, áreas e valores. E quantificam o ser humano e o seu trabalho – o dinheiro e o valor da actividade de cada um. Aliás, quantificam mesmo pedaços do ser humano: Quanto vale um braço ou um olho num acidente de viação ou trabalho.
Mas são esses mesmos números, ou quem com eles trabalha e sobre eles decide, que convencionam o volume do estômago de um pedreiro como menor que o de um engenheiro, pelo que necessita de menor quantidade por tempo de trabalho para o encher. Ou que o olho de um pedinte é bem menos valioso que o de um ministro, em caso de sinistro e compensações.
Aliás, na sociedade em que vivemos, é bem mais importante apresentar um número, inscrito num qualquer cartão identificativo, que dizer o nome do seu portador. Que, para empresas e organizações estatais, mais que pessoas, somos números, quantificados, classificados, estatiticados.
Mas os números não quantificam ou avaliam aquilo a que, realmente, dou valor: sentimentos e emoções!
Quanto pesa uma tristeza? Qual o comprimento de uma paixão? Qual o volume da alegria de viver? Qual o valor da satisfação de criar? Que profundidade tem uma dor?
Não! Os números não me satisfazem nem respondem às minhas perguntas! Donde, pouca importância lhes dou, quer se trate de valores absolutos ou relativos.
Vem toda esta conversa a propósito de uma notícia lida recentemente sobre números: espaço, tempo e espaço/tempo.
Falava ela sobre quanto tempo estão os semáforos para peões com cor verde em Portugal. E definia velocidades de andamento para peões em metros por segundo. E que a velocidade prevista nos semáforos para o andamento de peões é muito mais rápida que a recomendada. Em resumo: que os semáforos não dão tempo para os peões atravessarem as ruas em segurança, obrigando-os a correrem, a ficarem parados na faixa central ou ainda a ignorarem as cores exibidas, com o risco que isso implica.
É-me indiferente qual a velocidade, em metros por segundo, prevista para atravessar uma rua sem ser atropelado. É que nem desconfio que velocidade tenho quando atravesso uma avenida, numa noite de luar e de mão dada com uma namorada, para a levar a casa. Mas é francamente mais lenta que quando atravesso a mesma avenida em noite de tempestade, quando a vou buscar para jantar.
Em qualquer dos casos, quero poder fazê-lo em segurança!
E não o posso fazer na esmagadora maioria das avenidas da cidade de Lisboa!
Mas, garantidamente que uma avozinha, com o netinho pela mão, o pode fazer sem sobressaltos a qualquer hora e em qualquer rua ou avenida da capital da Catalunha. Que, por muito larga que seja, os automóveis têm o sinal vermelho o tempo suficiente para que qualquer cidadão, seja qual for a sua condição física, poder cruzar à sua frente de um lado para o outro da rua.
Podemos falar em velocidades, valores absolutos ou percentagens! Do que eu sei, em 100% das ruas de Barcelona posso atravessar em segurança toda a rua. E, do pouco que os números me interessam, este é um deles!
Aliás isto é tão verdade, que dá tempo para, sem grandes preocupações, parar a meio de uma das suas principais avenidas para a fotografar. Para os dois lados!
A que horas sai o próximo transporte que percorra, rapidamente, a distância entre Lisboa e Barcelona? Eis outro número que me interessa.
Já o de regresso nem tanto.


Texto e imagem: by me

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