Todos nós temos episódios na vida. Instantes que mais não duram que isso mesmo: instantes! Os que os faz perdurar é a memória de quem o viveu ou presenciou.
Mas a memória mais não é que uma cópia do que foi e que não se repete, por muito que se queira. Aliás, nem é bom de repetir, pois que a ignorância do futuro é o que nos faz apreciar o presente.
Mas, tal como as fotografias que registam momentos irrepetíveis e que são vistas e revistas, também certas estórias são contadas por hábito. Ou porque o contador se repete porque se esqueceu que já a contou, ou porque o contador entende que, ainda que repetida, se adequa à situação ou momento.
Em qualquer dos casos, aqui ficam duas repetições: uma fotografia e uma estória, ambas as vivências irrepetíveis:
Panelas de Natal
A tradição familiar dizia que o Menino Jesus descia pela chaminé para pôr prendas no sapatinho.
Assim, depois do jantar, a cozinha era imaculadamente arranjada, o fogão forrado com papeis “bonitos” e os sapatos colocados em cima deles.
Na manhã de Natal os pequenos, depois de toda a família acordada, eram autorizados a entrar na cozinha onde, para deslumbre total, lá estavam os presentes. Poucos, que os sapatos eram muitos, mas apetecidos e apreciados.
O mais velho dos quatro foi, naturalmente, o primeiro a ser informado da verdadeira história e a ser incluído na cerimónia da colocação das prendas.Depois do fogão decorado e dos mais pequenos terem recolhido à cama, foi a sua vez de colocar as suas prendas para toda a família, indo então deitar-se, que não podia ver as que lhe eram destinadas antes dos outros acordarem.
Acordou ele a meio da noite, com vontade de urinar e dirigiu-se à casa de banho. Mas logo lhe passou a vontade. Com receio que furasse o bloqueio de acesso à cozinha, tinham atado uma cadeira com tachos e panelas ao puxador da porta de seu quarto. Quando a abriu, tudo se espalhou pelo chão, acordando a casa por inteiro.
Não me recordo ao certo qual ou quais as prendas que recebi nesse ano. Mas tenho a vaga ideia de ter sido um famoso Renault 16 do “Tour” que esventrei e em cujo interior coloquei um pesado imã de bicicleta. Com ele, ganhava todas as provas de todo o terreno que na rua se faziam.
Ainda hoje, quando a família se reúne, ninguém me acredita que, então, apenas queria ir à casa de banho.
Texto e imagem by me
Mas a memória mais não é que uma cópia do que foi e que não se repete, por muito que se queira. Aliás, nem é bom de repetir, pois que a ignorância do futuro é o que nos faz apreciar o presente.
Mas, tal como as fotografias que registam momentos irrepetíveis e que são vistas e revistas, também certas estórias são contadas por hábito. Ou porque o contador se repete porque se esqueceu que já a contou, ou porque o contador entende que, ainda que repetida, se adequa à situação ou momento.
Em qualquer dos casos, aqui ficam duas repetições: uma fotografia e uma estória, ambas as vivências irrepetíveis:
Panelas de Natal
A tradição familiar dizia que o Menino Jesus descia pela chaminé para pôr prendas no sapatinho.
Assim, depois do jantar, a cozinha era imaculadamente arranjada, o fogão forrado com papeis “bonitos” e os sapatos colocados em cima deles.
Na manhã de Natal os pequenos, depois de toda a família acordada, eram autorizados a entrar na cozinha onde, para deslumbre total, lá estavam os presentes. Poucos, que os sapatos eram muitos, mas apetecidos e apreciados.
O mais velho dos quatro foi, naturalmente, o primeiro a ser informado da verdadeira história e a ser incluído na cerimónia da colocação das prendas.Depois do fogão decorado e dos mais pequenos terem recolhido à cama, foi a sua vez de colocar as suas prendas para toda a família, indo então deitar-se, que não podia ver as que lhe eram destinadas antes dos outros acordarem.
Acordou ele a meio da noite, com vontade de urinar e dirigiu-se à casa de banho. Mas logo lhe passou a vontade. Com receio que furasse o bloqueio de acesso à cozinha, tinham atado uma cadeira com tachos e panelas ao puxador da porta de seu quarto. Quando a abriu, tudo se espalhou pelo chão, acordando a casa por inteiro.
Não me recordo ao certo qual ou quais as prendas que recebi nesse ano. Mas tenho a vaga ideia de ter sido um famoso Renault 16 do “Tour” que esventrei e em cujo interior coloquei um pesado imã de bicicleta. Com ele, ganhava todas as provas de todo o terreno que na rua se faziam.
Ainda hoje, quando a família se reúne, ninguém me acredita que, então, apenas queria ir à casa de banho.
Texto e imagem by me
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