De arquivo, de um domingo de Setembro de há mais de uma dúzia de anos
“Nunca vos aconteceu? Acordarem de manhã com uma música no ouvido? Pois a mim acontece-me volta e meia.
Nunca percebi muito bem o
motivo de tal e muito menos os critérios para que seja essa e não qualquer
outra. Por vezes é uma mais popular e simples, outras uma mais pesada e
“rocalhada”, por vezes ainda uma qualquer outra menos comum e insuspeita.
Pois nesta manhã de
domingo, que tinha previsto ir passar no Jardim da Estrela, dei comigo a sair
da cama com a Marselhesa no ouvido. O “Allons enfans de la patrie” não havia
meio de querer parar de sair pela boca, ecoando na cabeça, materializado mais
por assobio que cantado, que só sei a primeira linha. E nada o justificava, que
não o tinha ouvido recentemente, não tinha visto nenhum filme desta língua, nem
mesmo ouvido qualquer música com esta origem nos últimos tempos.
Não prestei muita atenção
ao facto. Até porque o conceito que à época, o acompanhou – Liberdade,
Igualdade, Fraternidade – fazem parte da minha maneira de estar na vida.
E eis que dou comigo, em
pleno Jardim da Estrela, com concerto musical por fundo, a fotografar
desesperadamente. Foi uma tarde altamente proveitosa, sob diversos pontos de
vista, incluindo o número de imagens efectuadas. Felizmente levava reservas de
energia e matéria-prima, ou teria ficado apeado.
Com o que eu não contava
foi o ter que usar dos meus parcos conhecimentos da língua francesa com
transeuntes, fotografados ou não. Em regra o inglês sobrepõe-se, sendo que é o
actual “esperanto”. Mas esta foi uma tarde francesa.
E, dos diversos contactos
que tive nesta língua, evidencio com particular ênfase esta mocinha que aqui
vedes. Depois de uma troca de fotografias, fiquei sabendo que, para além de
marselhesa de origem, é estudante de fotografia. E, mesmo estando de férias,
não dispensa a sua câmara e o seu uso. Recomenda-se!
O que também se recomenda
é reparar com atenção no que tem nas mãos: uma Bronica 6x45. Película formato
120, doze fotografias por rolo, nada de zooms ou artifícios electrónicos. É com
esta ferramenta que aprende o ofício, suponho que também com qualquer outra
digital que possua. Mas esta foi a que escolheu para trazer nas férias.
Digam lá o que disserem
os pedantes da fotografia contemporânea, a fotografia faz-se pensando, mesmo a
reportagem. E esta câmara é uma das que obriga a tal exercício. Pela forma como
é manuseada, pelo custo de cada imagem, pela sobriedade das opções. Há que
saber o que se faz antes de o fazer. Ou, por outras palavras, há que saber o
porquê antes de se encontrar o como.
Fica daqui o meu aplauso
à Lola, assim se chama ela, bem como à escola onde estuda que a incentivou a
tal.
Au revoir!”
Nota adicional, acrescentada hoje mesmo – Esta é a tal luz de que tanto
gosto e procuro. Vinda do lado de lá, sempre.
By me
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