sexta-feira, 17 de setembro de 2021

Luto




Lamento ser portador de más notícias: O João do Grão morreu.

Na rua dos Correeiros, pertinho da Praça da Figueira, tinha mais de 200 anos e, ao que entendo, seria dos mais antigos de Lisboa.

Faleceu vítima de pandemia e ganância, mais um edifício comprado para transformação em hotel e, no negócio, lá chegaram a acordo com o restaurante. Que fechou portas.

Isto é uma notícia corriqueira neste século XXI e nesta cidade que corre atrás do lucro turístico mais ou menos rápido, descaracterizando-se e pouco pensando que dentro de alguns anos este fluxo minguará porque outros locais e cidades se valorizarão e teremos um centro da capital com hotéis e quejandos às moscas. Como aconteceu no pico da pandemia.

E hoje, quem se passear pela baixa da cidade, encontra-a descaracterizada, com lojas iguais às dos centros comerciais ou dos centros de outras capitais, com os mesmos produtos mas em língua portuguesa. Ou de recordações baratas, genuinamente inúteis. Orientadas para os forasteiros e que, com o previsível declínio do turismo a médio prazo, fecharão. Tornando o centro da cidade ainda mais deserto ou, em alternativa, uns bairros afectos aos de grandes posses, uma vez mais descaracterizando-a.

A minha ligação ao João do Grão é velha de muitos anos. Mais de quarenta. Boa comida, atendimento simpático, quase caseiro, preços acessíveis… Pese embora só lá ir tomar uma refeição de quando em vez, que essa não é uma zona onde vá amiúde, quando ontem ali passei e quis saber o que tinha acontecido, fui saudado por três ex-funcionários, agora a trabalhar em restaurantes e esplanadas contíguas.

Disse-me um deles: “Casei, os meus filhos fizeram-se homens, os meus netos nasceram e eu a trabalhar ali. Custou-me!”

A mim também!


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