Há fotografias que não têm interesse algum.
Não contam uma história ou estória, não são particularmente
apelativas nem na forma nem no conteúdo, provavelmente não apelam a memórias de
quem fotografou ou de quem vê.
Digamos que é uma característica humana, o não dar atenção
ao normal, às rotinas, ao indiferente. E aos fotógrafos ainda mais.
O fotógrafo é, entendo eu, alguém que tem um sentido de
ordem e organização do universo muito rigoroso, só se preocupando ou só lhe
chamando a atenção aquilo que quebra essa organização. Belo ou horrendo. E,
consequentemente, não registando a banalidade, o sempre igual, a rotina do
quotidiano.
A menos, claro, que esse seja o seu objectivo.
Acontece-me, de quando em vez, acordar para este tema. E
forçar-me a fotografar exactamente aquilo que não tem interesse algum. Nem de
forma nem de conteúdo.
Volta e meia, a minha abordagem é fotografar do local exacto
onde estou, com a perspectiva possível e sem escolher assunto ou momento. As
mais das vezes usando um telemóvel. Noutras ocasiões elaboro um pouco mais,
usando o equipamento que possa ter comigo e alterando a perspectiva e/ou
exposição para que, do banal e uniforme, possa surgir algo com algum interesse
visual. Pelo menos para mim e no momento.
Disse alguém (lamento não recordar quem) que o que importa
numa fotografia não será o que estava à frente da objectiva mas antes o que
estava atrás dela.
Quem sou eu para desmentir tal verdade?
By me
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