quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Sem interesse




Há fotografias que não têm interesse algum.

Não contam uma história ou estória, não são particularmente apelativas nem na forma nem no conteúdo, provavelmente não apelam a memórias de quem fotografou ou de quem vê.

Digamos que é uma característica humana, o não dar atenção ao normal, às rotinas, ao indiferente. E aos fotógrafos ainda mais.

O fotógrafo é, entendo eu, alguém que tem um sentido de ordem e organização do universo muito rigoroso, só se preocupando ou só lhe chamando a atenção aquilo que quebra essa organização. Belo ou horrendo. E, consequentemente, não registando a banalidade, o sempre igual, a rotina do quotidiano.

A menos, claro, que esse seja o seu objectivo.

Acontece-me, de quando em vez, acordar para este tema. E forçar-me a fotografar exactamente aquilo que não tem interesse algum. Nem de forma nem de conteúdo.

Volta e meia, a minha abordagem é fotografar do local exacto onde estou, com a perspectiva possível e sem escolher assunto ou momento. As mais das vezes usando um telemóvel. Noutras ocasiões elaboro um pouco mais, usando o equipamento que possa ter comigo e alterando a perspectiva e/ou exposição para que, do banal e uniforme, possa surgir algo com algum interesse visual. Pelo menos para mim e no momento.

Disse alguém (lamento não recordar quem) que o que importa numa fotografia não será o que estava à frente da objectiva mas antes o que estava atrás dela.

Quem sou eu para desmentir tal verdade?


By me 

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